O quarto dia do Congresso da IFLA tem um programa quase que inteiramente dedicado às Bibliotecas Públicas. Ainda que existam sessões dedicadas a outros temas as referências aos contextos das bibliotecas públicas, dos seus profissionais e/ou dos seus utilizadores acabam por marcar o dia.
Logo pelas 8.30 da manhã tem início uma sessão de boas-vindas para os participantes no Congresso na Biblioteca de Sello (Espoo). Este é um dos eventos do Congresso que decorre fora do Centro de Congressos e que desta forma pretende descentralizar algumas das sessões para locais relacionados com o tema da sessão, mostrando assim outros espaços. Para esta sessão, estava previsto um conjunto de apresentações dedicadas às bibliotecas, projecto e serviços destinados às crianças e aos jovens com relação com a escola (biblioteca escolar) e que como elemento agregador tinham o facto de serem projectos diferentes dos tradicionais: sessão 160 – Surprising Library! — Public Libraries, Libraries for Children and Young Adults and School Libraries and Resource Centers.
A primeira apresentação faz uma retrospectiva pela história da literatura infantil na Finlândia. Recorrendo a uma cronologia que nos faz recuar à primeira metade do séc. XVI para conhecermos o primeiro livro infantil publicado em finlandês. A história do mundo continua a avançar e com ela as relações da literatura infantil na Finlândia, ora por influência da Suécia ou da Rússia (a Finlândia foi ocupada por estes dois países), ou pela sua própria mão após a independência. Foi uma sessão muito esclarecedora que ajudou a perceber melhor a relação dos finlandeses com o livro e a leitura e compreender os elevados níveis de literacia e a sua óptima relação com as bibliotecas.
A apresentação que se seguiu versava sobre um projecto financiado pelo Governo Norte-Americano para o estabelecimento de bibliotecas em países da Africa Sub-Sariana. A construção dos equipamentos conta com o apoio da comunidade local – construção do edifício, selecção da colecção e organização dos espaços e serviços como forma de cativar o interesse e atenção das crianças e jovens. O Lubuto Library Project desenvolve-se em três áreas centrais – LubutoMentoring, LubutoArts, LubutoLiteracy e LubutoStorytime.
Um colega dinamarquês trouxe-nos o projecto de animação da leitura “Living Book”. Através deste projecto todos os anos um conjunto de crianças trabalha um livro cuja história permita explorar as seguintes vertentes: aprendizagem de histórias e tradições, exploração de hábitos e costumes, contacto com a natureza ou ciência. Após a leitura do livro e ao longo de um ano as crianças vão trabalhar em conjunto com a biblioteca, a escola e a família todas as áreas referidas cima, sempre numa perspectiva prática que envolve, por exemplo, pesquisa histórica, atelier de dança ou tiro ao alvo, preparação de alimentos e caça ou pesca.
Através de exemplos e boas práticas de várias bibliotecas alemãs, uma outra colega mostra-nos como os projecto de promoção do livro e da leitura com crianças devem fazer uma fusão de aprendizagens entre o real e o virtual: programas especiais que contenham experiências com a natureza, contacto com arte, horas do conto com recursos a várias técnicas e métodos, de modo a fazer da biblioteca um local de encontro entre o virtual, o sensorial, o social e o estético.
Do Canadá vem um clube de leitura de Verão chamado “Le club des aventuriers du livre”. Este projecto que decorre entre os meses de Junho e Agosto, consiste numa exploração de livros previamente seleccionados e que no final do projecto originam a total remodelação de uma área do espaço infantil da biblioteca. Através da aprendizagem de história, geografia, ciência da natureza, matemática ou física, as crianças são convidas a produzir objectos que permitam redecorar toda uma zona da biblioteca. Ao longo dos anos aquele espaço já foi uma estação espacial, uma selva, uma ilha, um deserto e o fundo do mar. Através da leitura de livros de uma mesma temática várias crianças em diferentes bibliotecas contribuem para a remodelação do espaço.
A biblioteca anfitriã desta sessão apresentou um projecto de leitura que consiste em trabalhar com crianças que possuem dificuldades de leitura ou que necessitem de melhorar a sua capacidade leitora. A técnica que a colega utiliza nesta biblioteca passa pela utilização de um animal! A Biblioteca de Sello possui um cão (Borje) que no espaço infantil é um dos melhores ouvintes das crianças que querem ler em voz alta. Através de diversos estudos na área da psicologia infantil está provado que a convivência com animais melhora as capacidades de sociabilização, reforça a auto-confiança das crianças, conseguindo dessa forma bons resultados na capacidade de leitura. Este cão que adora livros, que lhe leiam histórias e é a mascote da biblioteca tem uma página no Facebook e as crianças da biblioteca adoram-no como um verdadeiro amigo.
Consultar as comunicações em: http://conference.ifla.org/ifla78/session-160
A sessão 161 -Multicultural libraries – inspiring, surprising and empowering u«your communities: library services to multicultural populations – apresenta-nos quatro projectos de trabalhos em bibliotecas com populações multiculturais. Da Finlândia à Suíça e á França, ficamos com quatro ideias de sucesso em como envolver, dinamizar e motivar populações com diferentes características socio-culturais.
Consultar as comunicações em: http://conference.ifla.org/ifla78/session-161
Após uma breve pausa para almoço, e já de volta ao Centro de Congresso, a tarde decorre com a sessão 173: Twining physical learning spaces and new media initiatives: new ways to reach library costumers. Nesta sessão ficamos a conhecer de que forma umas bibliotecas públicas conseguem chegar mais próximo das necessidades dos utilizadores, para que mantendo os serviços tradicionais, possam prestar outros que passem pela Web 2.0, pela utilização de novos suportes de informação (ebooks e podcast), pela aprendizagem de novas ferramentas de comunicação como forma de cidadania, sociabilização e formação ao longo da vida. Através de exemplos vindos da Finlândia, Estónia, Canadá e Singapura ficamos com um panorama bastante representativo da panóplia de recursos que estão disponíveis, alguns até gratuitos, e que podemos utilizar nas nossas bibliotecas.
Consultar as comunicações em: http://conference.ifla.org/ifla78/session-173
Ainda durante a tarde, e porque este dia foi especialmente rico nos temas relacionados com as bibliotecas públicas, a sessão 182 – What does the e-libary mean to the public library users? – apresenta quatro projectos desenvolvidos em bibliotecas públicas relacionados com a os novos media e as literacias e tecnologias portáteis emergentes. Recorrendo a exemplo já aplicados no terreno, todos os cenários apresentados mostram como as estratégias na área das TIC, e tendo em conta a rápida mutação e evolução dos suporte, devem ser avaliadas regularmente de forma a não se correr o risco de ficar obsoleta. Se no paradigma anterior das TIC a frase era “digital divide”, nesta nova fase a frase-chave será “content divide”. Ainda que algumas das barreiras no acesso às TIC se mantenham em vários países e até mesmo em regiões do globo, a actual evolução dos conteúdos mostram-nos que a próxima área de intervenção das bibliotecas já não poderá ser apenas o acesso á tecnologia (no sentido mas imediato), mas acima de tudo o de facilitar o acesso ao conteúdo online.
Consultar as comunicações em: http://conference.ifla.org/ifla78/session-182
Bruno Duarte Eiras
em Ullanlinna, Helsínquia
[Nota: Este texto não refere a totalidade das apresentações realizadas no Congresso, mas apenas um resumo das sessões assistidas e dos pontos que me pareceram mais interessantes.]