De acordo com o Grupo de Peritos de Alto Nível que foi instituído pela Comissária Europeia Androula Vassiliou, é urgente inverter a tendência negativa da queda dos níveis de literacia, sendo fundamental que a União Europeia repense a sua estratégia para aumentar os níveis de literacia dos europeus.
Segundo este relatório, um em cada cinco jovens de 15 anos de idade, para além de cerca 75 milhões de adultos, não adquiriram as competências básicas de leitura e de escrita, o que dificulta a obtenção de emprego e acentua o risco de pobreza e de exclusão social.
O relatório que conta com cerca de 80 páginas inclui várias recomendações, desde conselhos aos pais, para cultivarem junto dos filhos o prazer da leitura, à criação de bibliotecas em ambientes não convencionais como os centros comerciais e à necessidade de atrair mais professores do sexo masculino que possam servir de modelo aos rapazes, que lêem muito menos do que as raparigas. Além disso, apresenta recomendações específicas por faixa etária, apelando à prestação de serviços de educação e acolhimento para a primeira infância gratuitos, de qualidade e acessíveis a todos, a um maior número de professores especialistas em leitura nas escolas primárias, a uma alteração da abordagem adoptada para a dislexia, já que quase todas as crianças podem aprender a ler se lhes for garantido um apoio adequado, e ainda, a uma maior diversidade de oportunidades de aprendizagem para os adultos, em especial no local de trabalho.
Este relatório foi elaborado entre Fevereiro de 2011 e Junho de 2012 por um grupo de 10 especialistas (de que faz parte o ex-Ministro da Educação Roberto Carneiro), tendo a recolha de informação sido baseada em entrevistas, recolha de dos no terrenos, análise de dados estatísticos e uma ampla recolha de depoimentos de diferentes agentes da sociedade.
Na opinião de Androula Vassiliou, a Comissária responsável pela Educação, Cultura, Multilinguismo e Juventude: “Estamos a viver um paradoxo: embora ler e escrever sejam mais importantes e relevantes do que nunca no contexto do nosso mundo digital, as nossas competências no domínio da literacia estão a perder passo. É urgente inverter esta situação alarmante. Os investimentos para melhorar a literacia dos cidadãos de todas as idades têm vantagens económicas, produzindo benefícios tangíveis para as pessoas e para a sociedade, que gerarão milhares de milhões de euros a longo prazo.”
O relatório, apresentado numa conferência em Nicósia (Chipre), organizada durante a Presidência Cipriota da União Europeia, fornece exemplos de boas práticas na área da literacia nos países europeus. O relatório salienta que garantir elevados níveis de literacia é essencial para melhorar a qualidade de vida das pessoas e promover o conhecimento, a inovação e o crescimento. As alterações na natureza do trabalho, na economia e na sociedade significam, de um modo geral, que a literacia é hoje mais importante do que nunca e que a Europa deve, por isso, garantir de forma plena uma literacia funcional de todos os seus cidadãos.
Este relatório destaca a relevância da literacia por cinco razões:
- O mercado de trabalho exige cada vez mais competências no domínio da literacia (até 2020, calcula-se que 35% dos postos de trabalho exijam qualificações de alto nível, em comparação com 29% actualmente).
- A participação cívica e social depende mais fortemente da literacia no mundo digital.
- A população está a envelhecer e as suas competências no domínio da literacia precisam de ser actualizadas.
- A pobreza e os baixos níveis de literacia formam um círculo vicioso, influenciando-se mutuamente.
- A crescente mobilidade e migração estão a tornar a literacia cada vez mais multilingue, combinando uma vasta gama de contextos culturais e linguísticos.
O relatório formula recomendações para cada faixa etária. Para as crianças, é essencial que os Estados-Membros desenvolvam programas de literacia familiar, a fim de melhorar as competências de leitura e escrita tanto dos pais como dos filhos. Estes programas são extremamente rentáveis. O investimento em serviços de educação e acolhimento de qualidade para a primeira infância constitui um dos melhores investimentos que os países podem fazer no futuro capital humano da Europa. As crianças que têm beneficiado desses serviços são mais instruídas e alcançam melhores resultados na escola.
Os adolescentes precisam de materiais de leitura mais diversificados, incluindo livros de banda desenhada, textos literários impressos e ebooks, que motivem todos os leitores e, em especial, os rapazes. É importante promover a cooperação entre as escolas e as empresas, a fim de tornar a aprendizagem no domínio da literacia mais relevante para as situações da vida real. O tabu sobre os problemas de literacia dos adultos tem de ser quebrado. As Organizações Não Governamentais, os meios de comunicação social, os empregadores, as organizações da sociedade civil e as figuras públicas têm um importante papel a desempenhar na divulgação geral destes problemas e eventuais soluções.
A Comissária Europeia Androula Vassiliou irá debater os resultados do relatório com os ministros da Educação, numa reunião informal em Chipre, nos dias 4 e 5 de Outubro. Esse debate servirá de base para as Conclusões do Conselho sobre Literacia, no âmbito das quais os países da UE deverão acordar um certo número de prioridades, tanto nacionais como para a Comissão, com vista a eliminar mais eficazmente os problemas de literacia.
Para quem se preocupa com estas questões e diariamente trabalha para melhorar os níveis de literacia da sua comunidade, este é um documento de leitura obrigatória, para tentar compreender a razão pela qual Portugal, foi o país do Europa Ocidental que entre 2006-2009 mais queda teve nos níveis de literacia dos alunos (estudo PISA): – 7,3%.
A versão online do relatório está disponível neste endereço: http://ec.europa.eu/education/literacy/sources/index.htm
O sumário executivo em língua portuguesa está disponível neste endereço: http://ec.europa.eu/education/literacy/what-eu/high-level-group/documents/executive-summary_pt.pdf
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