“Escavar um sítio arqueológico é como ler um livro escrito ao longo do tempo, em que cada página é um dos momentos da sua história.” Praticamente todos os arqueólogos já usaram esta metáfora para explicar o seu trabalho, podendo acrescentar que, para serem lidas, as páginas vão sendo arrancadas de uma forma irrepetível.
É uma boa imagem para exemplificar o valor documental dos testemunhos materiais deixados pelo homem na construção histórica da identidade, valor celebrado no mote proposto este ano para as comemorações do Dia Internacional de Monumentos e Sítios. Todos os que nos preocupamos também com a gestão da informação podemos [devemos] ir um pouco mais além e perguntar: o que fazemos nós com as páginas depois de arrancadas dos sítios e das paisagens?
Muitas – sobretudo os artefactos – são guardadas em museus, mas nunca devemos perder de vista que esses documentos são mudos sem o seu contexto. E, na maior parte dos casos, o contexto só é recuperável através da documentação produzida pelos profissionais que intervieram no sítio ou na paisagem: fotografias, desenhos, textos, diagramas, notas… tem que ser guardados, catalogados, preservados, de modo a que informação que contém seja recuperável. A responsabilidade é grande: se não o fizermos, sítios e paisagens antigas são livros de só um leitor.
Maria José de Almeida
(arqueóloga, Grupo de Trabalho BAD de Sistemas de Informação em Museus)