Com que frequência tem participado nos Congressos BAD?
Com bastante frequência. Só terei faltado ao 8º, o do Estoril.
Como descreveria as suas experiências de participação nesses Congressos?
Sobre experiências passadas tenho, em termos profissionais e pessoais, saudáveis memórias dos congressos e dos colegas portugueses e estrangeiros. E alguns sentimentos contraditórios quando faço o balanço entre expectativas e realidades: o entusiamo e a surpresa que sempre provoca o que cumpre ou excede a expectativa e algum desconsolo pelo que a desilude. Mas há sempre o congresso seguinte para novas expectativas e balanços. Nos congressos da BAD, desde 1985 até agora, tive a experiência de conhecer a evolução de tendências e inovações que se projetaram nas bibliotecas públicas. Se, para mim, os primeiros congressos eram, sobretudo, uma oportunidade de acompanhar um pouco o muito do novo que emergia, hoje, que a difusão e acesso a essa informação não depende tanto deles, agrada-me a experiência de conhecer resultados práticos nacionais e internacionais do que é desenvolvido e a reflexão que sobre eles possa construir.
Costuma apresentar comunicações? Porquê?
Não apresentei comunicações em todos os congressos. Só o fiz quando a biblioteca estava envolvida em projetos inovadores. O caso da primeira, com a Constança e a Cristina, quando com alguma incipiência começámos a fazer estudos dos utilizadores, ou da segunda, sobre o espaço lúdico nas bibliotecas, quando se pensava pouco na importância de ludotecas e bebetecas para a literacia precoce. As que se seguiram, creio, partilharam esta característica: dar conta de algo que se experimentava ou em que se refletia. Fi-lo porque gostava de acreditar que os congressos da BAD eram, dos poucos, espaços de partilha para os bibliotecários. Confesso, também, uma “motivação oportunista”: a possibilidade de discussão crítica para aferir o que na biblioteca se fazia e o que, bem ou mal, se pensava. Sinto sempre falta de uma visão exterior válida que possa contribuir para aportar melhorias, ainda que me pareça que o espaço de discussão nos congressos acabou por se formalizar e ela fica sempre aquém. Possivelmente o problema não está nos congressos mas na falta de espaços alternativos para estas abordagem em moldes mais abertos e participados e na disponibilidade das pessoas para o fazerem.
Em seu entender, que benefícios pode ter um profissional por participar no Congresso?
Penso que, sem querer, já respondi a esta questão. Acrescentaria o benefício de conhecer ou reencontrar pessoas com quem é importante cruzarmo-nos e sentir que esses encontros nos acrescentam, desafiam ou estabilizam. Já um malefício dos congressos é, com o tempo, tornarem demasiado impressiva as ausências dos que já não podemos voltar a reencontrar.
Lembra-se de alguma história ou episódio relevante da sua participação nesses congressos?
O de Braga, um congresso definitivamente épico. Para mim, para o Francisco Lopes e o Joaquim Mestre, ele começou em Lisboa, continuou na viagem de comboio até Braga e nos dias seguintes. O 4º, foi um congresso que não terminou na sessão de encerramento. Foi necessário empreender um movimento de resistência à política do, então, Secretário de Estado da Cultura, que significaria um retrocesso para a RNBP. Foi a convergência de visão e decisões para a ação tomadas pelos bibliotecários reunidos em congresso e, prosseguidas quando regressaram às suas bibliotecas ̶ com o apoio das administrações, dos leitores, da BAD e do IPLB ̶ que reverteram aquela política. É verdade que a RNBP acabou por não ultrapassar o patamar de rede edificada; mas, naquela altura, sem as atuais redes sociais, em cerca de um mês obtiveram-se assinaturas necessárias para uma petição pública, reunir com representantes de grupos parlamentares e levar a assunto ao plenário da Assembleia da República. Hoje, com os novos recursos disponíveis, surpreende os escassos resultados, por exemplo, do envolvimento público na petição para a biblioteca da Nazaré, ou na da EBLIDA para assegurar o direito de acesso e disponibilização pública de formatos digitais nas bibliotecas. Temos, agora, ferramentas fantásticas. Ocorre-me que, possivelmente, não as estaremos a explorar convenientemente num novo quadro de realidades sociais, culturais e, também, profissionais. Um desperdício num caso, um desnorte no outro. Voltando ao congresso de Braga, lembro-me que fui profética. Nada tenho contra o teatro, faço parte do seu público. Mas os que ainda se lembrem que, agora, era suposto estarmos na 22ª ou 23ª edição do Festival de Teatro de Évora ponham, sff, o dedo no ar. Em Braga, disse que dali a vinte anos ninguém se iria lembrar do Festival de Teatro de Évora ̶ a então menina-dos-olhos de Pedro Santana Lopes ̶ ao contrário do que sucederia com a rede de bibliotecas; estas permaneceriam na paisagem cultural e educativa dos seus concelhos e continuariam a ampliar a oferta de oportunidades de formação e de crescimento das pessoas. Creio que estas, e elas, são, e serão, uma boa razão para os nossos congressos da BAD continuarem. E para os bibliotecários de leitura pública participarem neles, se possível, de uma forma mais ativa e crítica, o que um tempo de profunda transformação e mudança nos exige.
Um abraço para todos e até Évora. Seguramente que lá vou-me lembrar, muito, do Joaquim Portilheiro.
Vera Silva
Bibliotecária, licenciada em História, pós graduada em Ciências Documentais e em Gestão das Artes e doutoranda em Ciências da Informação e da Documentação.