No meio de tanta incerteza o retorno de uma BAD viva e que convida TODOS a participar na vida da NOSSA associação é uma notícia que ressuscita a vontade de trabalhar em prol da nossa profissão e missão.
Assumindo o lema que o EU pode sempre fazer alguma coisa, mas o TODOS pode fazer tudo, é com orgulho que participo neste renascimento, com uma crónica publicada no blogue O Papalagui, há cerca de dois anos, por altura do nascimento do meu filho, onde descrevo um pouco uma das razões para a escolha de um caminho, que me levou ao volante e a condução da Bibliomóvel por terras e gentes de Proença-a-Nova, a promover o Livro, a Leitura, o acesso livre a Informação ao Conhecimento e sempre algo mais…

Quando acabou a 4ª classe, esse menino recebeu do seu professor uma prenda, que, apesar de não lhe ser desconhecido porque era um livro, lhe causou alguma estranheza, em grande parte por não compreender o respectivo enredo: o livro relatava as aventuras e perplexidades de um chefe índio de uma ilha dos Mares do Sul trazido por uns missionários para um qualquer país ocidental; este confronto entre a visão do chefe índio e tantas das incongruências da nossa vivência ocidental confundiu, e de que maneira, a jovem e sonhadora mente desse menino. O livro era O Papalagui.
Na vivência e convivência deste menino com os livros havia também uma outra personagem essencial: o livreiro responsável pela livraria que existia a meio da avenida onde os seus pais possuíam um pequeno comércio dedicado a outras delícias, estas de cariz mais gastronómico.
Manhãs e tardes sem conta, sentado nos degraus da sala principal da livraria ou no chão em frente as prateleiras da banda desenhada, a folhear, cheirar e ler álbuns inteiros, sem a obrigação de adquirir nenhum. Havia ocasiões em que as portas da livraria se fechavam para um café com um pastel de nata do livreiro, mas o menino, esse, podia ficar na livraria com o beneplácito do livreiro, qual guardião de um templo vazio de gente, mas repleto de personagens e de mil e uma aventuras que transformavam o aparente silêncio de uma loja vazia numa contínua algazarra de guerras, batalhas e duelos ao pôr do sol.
Passado um par de anos, vieram as revoluções do universo ZX Spectrum 48K (128K), a NBA, o Benfica, os rallies, a Formula 1, as miúdas do pátio de basquete e do pátio de voleibol, as diferenças entre “surfistas” e os “metálicos” que eram avidamente discutidas e escalpelizadas nos intervalos (e durante as aulas!) do Liceu entre companheiros de escola.
E foi nos trajectos diários a caminho do Liceu, num atalho tantas vezes percorrido, que uma imagem longínqua se destacou um dia no estaleiro municipal: um veículo estranhíssimo com formas bizarras e pouco aerodinâmicas chamou a atenção desse menino, agora com 13 anos. Assim que pode o menino passou a abeirar-se daquela extravagância automobilística com um olhar curioso e sonhador, igual ao de todos os meninos de 13 anos, com o qual explorava o seu interior em busca de sentido e da missão para tão bizarro veiculo.
Ao conseguir vislumbrar o interior desse veículo forrado de cima a baixo e dos lados de prateleiras cheias de livros, logo imaginou a missão para que estava moldada aquela aparente singularidade de quatro rodas, a que chamavam Biblioteca Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian.
Como todos os meninos de 13 anos, também este imaginava onde e o que estaria a fazer dali a uns anos. E, por mais de uma vez, pensou quão seria interessante e curioso conduzir um veículo semelhante, calcorrear terras e conhecer gentes diferentes todos os dias, transportando livros para observar, tocar, cheirar, ouvir e ler…
O Papalagui