Alexandra Fonseca
Realizou-se no passado dia 13 de janeiro, o terceiro evento do Ciclo de Reflexões e Debates do Grupo de Trabalho de Gestão de Documentos de Arquivo (GT-GDA) da BAD, subordinado ao tema “Gestão documental e computação em nuvem na Administração Pública: ameaça e/ou oportunidade?”. O evento decorreu na Biblioteca Nacional de Portugal em Lisboa e contou com a participação de Henrique Santos, professor da Universidade do Minho, e de Cláudia Pais, da Portugal Telecom. A moderação esteve a cargo de Rafael António, consultor e membro do GT-GDA.
O orador incumbido da abordagem teórica do tema, Henrique Santos, apresentou a evolução do paradigma no que concerne ao armazenamento de informação desde 1860 até à atualidade, mencionando que, de acordo com a evolução da sua adoção no mercado, a cloud veio para ficar. Referiu igualmente quais os tipos de serviços que podem ser encontrados na cloud, nomeadamente: Xaas (everything as a service), SaaS (software as a service), PaaS (platform as a service) e IaaS (infraestrcuture as a service) ou HaaS (hardware as a service).
No que concerne aos modelos de desenvolvimento da cloud computing, que correspondem a arquiteturas específicas, o orador identificou as seguintes: públicas, comunitárias, “privada” e híbrida. Referiu igualmente que anteriormente à selecção da cloud a utilizar, é preciso ter em consideração as necessidades da entidade, devendo esta efetuar uma análise tecnológica e financeira antes de tomar uma decisão. Mencionou igualmente que não faz sentido a utilização da cloud para aplicações em “tempo real” na medida em que os serviços com a contínua utilização vão ter tendência a degradar-se quanto ao nível de serviço que actualmente é prestado. Quanto à questão de aplicações que lidam com “informação sensível”, considera que ninguém pode garantir a confidencialidade da mesma dada a complexidade do sistema.
A cloud em Portugal
Cláudia Pais, incumbida da componente prática, apresentou a visão da Portugal Telecom quanto à utilização da cloud em Portugal. Mencionou que já existe alguma maturidade sobretudo nas grandes empresas, mas tal situação ainda não se verifica nas pequenas e médias empresas, onde existe um longo trabalho a realizar. No nosso país a utilização da cloud começou pelas áreas que contém informação considerada menos crítica, como é o caso dos ambientes de desenvolvimento de software, formação, entre outros. No entanto, começa a verificar-se a utilização para sistemas de faturação, contabilidade e inclusivamente para o arquivo de documentos da empresa. Aponta como previsões da PT para 2015, a utilização da cloud para o e-mail, sistemas de colaboração, capacidade dos servidores (infra-estruturas), backup e arquivo.
A oradora apresenta como benefícios da cloud, a elasticidade relativamente à performance da infra-estrutura, a agilidade ao poder aceder em tempo real a determinados serviços, sendo o “time to market” o benefício considerado crucial na cloud computing. A outra vantagem está relacionada com a redução de custos na medida em que não há um avultado investimento inicial e apenas são adquiridos os serviços que efectivamente são necessários, evitando-se um sobredimensionamento face às reais necessidades. A PT assume-se assim como a primeira empresa em Portugal a oferecer aos seus clientes um serviço de cloud computing a nível nacional, tendo realizado um investimento único como é o caso do Data Center da Covilhã. Outro aspeto relevante foi o fato de ter explicitado a existência de uma cloud profissional que funciona nos circuitos privados da empresa e de uma outra que funciona sobre a Internet, reflectindo assim as tendências do mercado.
Após as apresentações seguiu-se o debate onde foram colocadas questões relacionadas com o backup da informação e o seu acesso por parte do “dono da informação”, onde foi referido que tal só é possível se a empresa em questão tiver conhecimento da sua password de acesso, na medida em que a informação se encontra toda encriptada e a PT não tem acesso à mesma. Também foram colocadas questões relacionadas com a utilização da cloud por parte de entidades bancárias, tendo sido referido o caso do BCP que já utiliza para efeitos de ambiente de desenvolvimento e produção das suas aplicações e em breve ocorrerá a virtualização dos postos de trabalho das agências, passando assim a ser utilizada a cloud para o seu core business. Foi ainda mencionado que não existem soluções absolutamente seguras e que a alteração para a cloud significa uma mudança de paradigma que carece de reflexão sobre os riscos, sendo assim necessário aproveitar ao máximo as potencialidades da cloud e correndo o mínimo risco possível. O fato de só recentemente estarem a ser elaboradas as primeiras normas ISO sobre o tema traduz, por um lado, a atualidade do tema e, por outro, a complexidade enorme da tecnologia envolvida.
As apresentações realizadas ficarão brevemente disponíveis aqui.