Foi um dia de intenso debate e confronto de ideias aquele que se viveu no passado sábado, dia 14 de Março, na Biblioteca Nacional. De manhã, a Assembleia Geral Ordinária da BAD. À tarde, depois da entrega do Prémio Raul Proença a Tatiana Sanches, a mesa-redonda “Redefinir fronteiras/ afirmar identidade: desafios dos profissionais da informação”.
O objectivo desta mesa-redonda era a abertura ao “outro” que, não sendo bibliotecário, arquivista ou documentalista, é também profissional da informação, bem como o diálogo com o olhar externo de quem pensa o “outro”. Assim, para além de Alexandra Lourenço, na dupla condição de presidente da BAD e de arquivista, e de Paula Ochôa, professora e coordenadora da pós-graduação em Gestão e Curadoria da Informação na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, estiveram também presentes Alexandre Matos, doutorado em Museologia pela Universidade do Porto, e Viriato Soromenho Marques, professor catedrático de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Em duas rondas de intervenções, muitas foram as dúvidas lançadas pelos oradores: que estudos sociológicos existem sobre os profissionais BAD? a que perfil de competências correspondem os profissionais BAD? que dilemas profissionais concretos se colocam a estes profissionais? como gerem a profissão num tempo em que os lugares tradicionais poderão não existir durante muito mais tempo? como encaram a mudança que não se resume à tecnologia? que associação profissional querem estes profissionais e os “outros”?
Viriato Soromenho Marques, num olhar externo sobre a profissão, enfatizou os conceitos de “informação”, “tipo de informação”, “verdade”, “falsificação”, “reinterpretação” e “memória e esquecimento” como basilares na visão que tem dos profissionais BAD e do papel que estes podem e devem assumir na sociedade contemporânea, enquanto garantes da memória colectiva.
Numa sessão que foi muito participada, os desafios actuais dos profissionais cruzaram-se com a discussão sobre o futuro da Associação, que envolve a mudança de estatutos, a alteração ou não do nome da Associação, e a abertura a um campo mais vasto de profissionais que se reconheçam na BAD. Entre a discussão do nome da Associação e a problematização do objecto epistemológico da profissão, foram muitas as vozes que se pronunciaram a favor de uma Associação mais inclusiva, reflexo do momento actual.
Na intervenção final, Viriato Soromenho Marques fez um balanço positivo desta mesa-redonda, e deixou um desafio à BAD e aos seus profissionais: que, em vez de uma “identidade para dentro”, sejam capazes de construir uma “identidade para fora”, só possível com um elevado grau de autoconfiança. Por outro lado, Soromenho Marques defendeu que “é preciso que hajam fronteiras” identitárias e epistemológicas, que não podem ser tão diluídas que se perca a noção do limite, nem tão cerradas que encerrem os profissionais em si mesmos. No fundo, disse Soromenho Marques, todos temos uma de duas possibilidades: “ou vemos a fronteira como cicatriz, ou a encaramos como marca natural do corpo”. O desafio não podia ser mais claro.
Cláudia Henriques