Fui convidada em janeiro de 2017 a escrever uma breve nota sobre minhas publicações disponíveis online no site Academia.edu (https://ufg.academia.edu/ManuelinaMariaDuarteCândido) para o Notícia BAD.
Ao tempo em que agradeço honrada o convite e oportunidade de divulgação dos trabalhos, gostaria de me apresentar como uma professora de Museologia oriunda de uma formação marcadamente interdisciplinar (História, Museologia e Arqueologia), com interesses, ainda que não formação, em outros campos como a Antropologia e a História da Arte.
De maneira muito sintética me interessam os temas ligados ao património e à cultura material, e traçar conexões entre a teoria e a prática no tratamento destas questões.
No momento, mantenho em andamento cinco projetos de pesquisa na Universidade Federal de Goiás, onde sou professora adjunta do Bacharelado em Museologia, e também colaboro como professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Artes, Património e Museologia da Universidade Federal do Piauí.
Os artigos disponíveis em linha, especialmente aqueles posteriores a 2009, ano de minha entrada na UFG, são relacionados a estes cinco projetos, alguns em fase de finalização, outros ainda no início.
Anteriores ao meu ingresso na Universidade eu destacaria dois trabalhos, dois livros para ser mais precisa:
– Imagens de Vida, trabalho e Arte, de 2000, é a publicação de minha monografia de graduação em História, três anos antes. Trata-se de um estudo sobre a documentação museológica de um acervo de imagens sacras do Museu Dom José, em sobral, Ceará. Experiência que definiria muitos aspectos da minha atuação profissional: o encantamento pela Museologia, o interesse pela prática em museus e a atenção especial com os desafios e especificidades dos museus de pequeno e médio porte.
– Ondas do Pensamento Museológico Brasileiro, 2003. No ano em que meu primeiro livro (acima) foi publicado pela Universidade Lusófona, em Lisboa, eu estava já redigindo o trabalho de conclusão do Curso de especialização em Museologia na Universidade de São Paulo, que viria a ser meu segundo livro, pela mesma editora. Este trabalho se inspirou na obra Vagues: une Anthologie de la Nouvelle Muséologie, de André Desvallées, que apresenta somente dois textos de brasileiros, perseguindo a resposta à seguinte pergunta: que outros autores deveriam estar presentes em uma antologia como esta, representando o Brasil e sua produção no campo da chamada Nova Museologia?
Após um retorno ao Ceará entre 2005 e 2009 em que atuei na área da Arqueologia, como professora de curso superior de História, mas também na gestão de um museu do estado e em outros projetos mais ligados à Museologia, eu ingressei em 2008 no doutorado em Museologia da mesma Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e em 2009 na Universidade Federal de Goiás como docente de Museologia.
Meu primeiro projeto de pesquisa, com vigência somente até o final deste ano, engloba basicamente a pesquisa de doutorado e diversos produtos dela decorrentes, entre eles dois livros: Gestão de Museus, um desafio contemporâneo (2013, 2014) e Orientações para Gestão e Planejamento de Museus (2015). Seu título “Diagnóstico Museológico e Planejamento: Gestão de Museus e o Desafio do Método” dava uma ênfase inicial na ideia de diagnóstico. Como principal resultado foi gerada uma matriz para diagnóstico museológico e planejamento que tem sido adotada também por outros profissionais. A tendência é que fechado este projeto eu inicie um outro sobre gestão de museus mas com realce no planejamento, com experimentações a partir da aplicação da matriz, que pode eventualmente ser aperfeiçoada.
O segundo projeto, “Museologia e Interdisciplinaridade”, inicialmente está válido até o final de 2018 mas é um tema incontornável em minha trajetória e que inclusive denomina também meu grupo de pesquisa cadastrado na base de dados do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Coordeno, juntamente com minha colega, Camila Moraes, o Geminter – Grupo de Estudo e Pesquisa Museologia e Interdisciplinaridade, com integrantes internos e externos à UFG, envolvendo docentes, técnicos e estudantes de diversas áreas.
O projeto “Museologia: trajetória dos modelos teóricos e de formação profissional no Brasil e em Portugal”, cadastrado no ano em que encerrei meu doutoramento, traz a marca dos meus laços com Portugal e minha formação pela ULHT. Dei seguimento a ele ao longo da realização do pós-doutorado na Universidade Sorbonne Nouvelle, na França (2014), o que acentuou o interesse pela comparação de modelos de formação em Museologia no Brasil e na Europa, inclusive porque a experiência incluiu um mês como professora visitante na Universidade de Würzburg, Alemanha. Seu interesse também inclui estabelecer alguns mecanismos de divulgação do pensamento museológico do Brasil e de Portugal em línguas estrangeiras.
Finalmente, os projetos mais recentes, com vigência de 2017 a 2020:
– “Os sentidos, os tempos e os destinos das coisas: abordagens interdisciplinares sobre cultura material”
Pretende retomar e verticalizar o debate sobre cultura material a partir de um olhar da Arqueologia em diálogo interdisciplinar com a Antropologia, a Museologia, a História e outras áreas. Serão abordados diferentes produtos simbólicos e materiais dos grupos humanos, seus processos de produção, utilização, descarte, reutilização e ressiginificação, pensando sobre limites e reciprocidades entre bens materiais e imateriais, provocando uma interpretação expandida de artefato, chegando até o conceito de paisagem cultural e outros que desafiam as áreas do conhecimento acima mencionadas.
Também me interessa a possível construção de uma teoria da seleção, da filtragem ou do desapego, tangenciando os “discard studies”, além da investigação empírica do percurso ou biografia de exemplares da cultura material, transformados em coleções.
– “Presença Karajá: cultura material, tramas e trânsitos coloniais”
Projeto de pesquisa interdisciplinar que pretende mapear, identificar e analisar coleções de bonecas Karajá (ritxoko) presentes em coleções de museus brasileiros e estrangeiros com vistas a reconstituir a trajetória de formação das coleções, os contatos entre pesquisadores/instituições e grupos indígenas Karajá, bem como estudar adornos corporais e indumentárias das bonecas.
Em seu desenvolvimento realizará o cotejamento entre os objetos e sua documentação museológica, contribuindo, sempre que possível, com as instituições museológicas no aprimoramento das informações registradas.
Além disso, irá contribuir para a difusão das coleções de bonecas Karajá presentes em museus no Brasil e no exterior, estimulando o desenvolvimento de novas pesquisas e de projetos de comunicação museológica (exposições e ação educativo-cultural) a partir delas. Para o alcance de seus objetivos, reúne profissionais e estudantes das áreas da Antropologia, da Museologia e dos Estudos de Indumentária.
Estes projetos ensejam diversas publicações, minhas ou de outros integrantes, e sempre que não houver restrições de fundo autoral, contratos com editoras ou similares, será dada a ampla divulgação em meio digital de seus produtos, que me parece estar gerando um razoável interesse por parte dos pesquisadores do campo.
Manuelina Duarte
Professora Adjunta II da Universidade Federal de Goiás, Brasil