No âmbito das comemorações do 50.º aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974, a Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas, Profissionais da Informação e Documentação e a Câmara Municipal de Cascais promoveram nos dias 9 e 10 de maio, no Centro Cultural de Cascais, o Encontro Nacional Bibliotecas e Arquivos: O que mudou nos últimos 50 anos.
Neste Encontro, realizou-se uma mesa redonda, moderada por Luísa Alvim (Vogal Profissão BAD, CIDEHUS-EU) com os convidados Magda Valente Correia (Investigadora), Pedro Príncipe (Universidade do Minho – Serviço de Documentação e Bibliotecas), Rita Aleixo (Assembleia da República – Biblioteca Passos Manuel) e Sofia Diogo (Universidade Aberta). Pretendeu-se refletir e debater em torno da profissão na área da Informação-Documentação, a partir da uma questão genérica sobre as forças, as fraquezas, as oportunidades e as ameaças à profissão. As preocupações sobre a profissão não são novas, ao longo do tempo a BAD refletiu sobre estas questões em variados eventos.
Nesta sessão, os profissionais apontaram como maiores dificuldades a obtenção de ofertas de postos de trabalho, o entrar definitivamente no ciclo de emprego, sobretudo os que vivem numa zona geográfica fora das grandes cidades, a existência de ofertas de estágios não remunerados e de projetos de curta duração com condições precárias e, por fim, as propostas de trabalho para exercer funções de técnico superior com contratos de assistente técnico. Neste sentido, foi invocado o estudo O presente: As inquietações dos novos profissionais da informação, de autoria de Anabela Risso, Joana Duarte Gomes e Rita Aleixo, apresentado no 14º Congresso Nacional BAD (2023), para corroborar as preocupações dos jovens profissionais face às condições pouco aceitáveis de trabalho. Foram ainda apontadas outras fraquezas, como o envelhecimento dos profissionais de informação, as poucas oportunidades de rejuvenescimento que está associado à diminuta oferta de emprego, a falta de cursos de formação de líderes para dirigentes de bibliotecas e arquivos, a falta de orientação a objetivos, de inovação e de criação de projetos na gestão dos serviços. Existem oportunidades de formação a nível do ensino superior, mas por vezes desatualizada face aos conteúdos emergentes como o digital e desfasada da realidade laboral. O facto de a formação contínua na área ter custos elevados e sobretudo ser desenvolvida na capital, não permite que outros profissionais do restante país a possam frequentar.
Não obstante, os convidados referiram a presença de forças na profissão, nomeadamente a elevada qualificação dos profissionais, a aposta na formação contínua pelos jovens profissionais, os cursos de formação contínua dinâmicos, o apoio dos profissionais com mais experiência junto dos que estão a iniciar uma carreira e o foco nos utilizadores dos serviços.
Atualmente, nesta área profissional surgem novas oportunidades como a diversidade de competências e serviços orientados para a convergência digital, o esbatimento da fronteira entre arquivos e bibliotecas, proporcionando uma visão unitária do profissional de informação, que cada vez mais pode apoiar outros serviços e abrir-se a parcerias e a colaborações internacionais.
Porém,faltam estudos sobre a profissão, temos serviços inadequados, falta de reconhecimento social da profissão, o que leva a equívocos por parte da sociedade sobre as funções que um profissional de informação desenvolve. Ainda há um foco em práticas desajustadas como a catalogação, a existência de mitos nas discussões sobre a profissão, que não permitem a criação de novas estratégias e respostas aos problemas. Por exemplo, os mitos: o fim da carreira específica; a criação de uma ordem profissional; a não interferência junto da academia relativamente aos cursos por ela desenvolvidos; a profissão ser entendida só na função pública; a falta de formação de nível 4 para a categoria profissional de assistente técnico, entre muitos outros.
Que futuro? É preciso ter uma visão holística da profissão de informação e documentação em que os profissionais têm de ter capacidades em áreas fundamentais, obterem competências para responder aos desafios tecnológicos, serem guiados para o desenvolvimento de serviços e conteúdos de acesso aberto, terem como imperativo a defesa dos direitos de informação, lutarem contra qualquer tipo de censura e assegurarem os valores da diversidade, inclusão e colaboração.
Luísa Alvim
Vogal Profissão Conselho Nacional | 2024-2026