Conte-nos como entrou para este universo dos serviços de informação, nomeadamente, se obteve formação especializada?
Sou de Évora, e em pequenina o meu pai levava-me à Biblioteca Pública quando lá ia ler o jornal, e eu leitora ávida pensava que seria a pessoa mais feliz do mundo se um dia lá viesse a trabalhar. E consegui! Em 2001, sem formação especializada na área, apenas com a licenciatura em História, ramo de Património Cultural na qual tínhamos tido uma cadeira de Biblioteconomia e Arquivística e uma cadeira de Paleografia, entrei a recibos verdes para a Biblioteca Pública de Évora para um reforço do pessoal do atendimento. Foi o pontapé de saída que me encaminhou para procurar formação especializada, fazendo nos anos seguintes pós-graduação e curso de mestrado em Ciências da Informação, e seguir carreira na área das Bibliotecas.
Em que serviços de informação já trabalhou?
Comecei a trabalhar em serviços de informação em 2001 na Biblioteca Pública de Évora, fazendo atendimento e colaborando na organização do fundo documental. Em 2003, já com a Pós-Graduação concluída, entrei através de concurso público para a Biblioteca Municipal de Arraiolos com um contrato de trabalho a tempo determinado nas funções de técnica superior. Paralelamente, continuei ligada à Biblioteca Pública de Évora ao trabalhar para uma empresa de organização documental, que fora contratada para a catalogação dos vastos fundos documentais de modo a poderem ficar disponíveis para consulta e empréstimo domiciliário. Em 2006, entrei através de concurso público para a Biblioteca Municipal de Elvas com um contrato de trabalho a tempo determinado nas funções de técnica superior. Passados 10 anos de carreira, finalmente, em 2011, através de concurso público, fiquei nas funções de técnica superior, mediante contrato de trabalho a tempo indeterminado, na Biblioteca Municipal de Elvas.
Em traços gerais, qual a situação que encontrou em cada um deles quando entrou e que resultados foram alcançados posteriormente?
A Biblioteca Pública de Évora ao ser recetora de Depósito Legal, deu-me acesso a uma vasta coleção documental que me permitiu alcançar um conhecimento quase “infinito” a nível das publicações e editoras existentes. A sua excecional coleção patrimonial de Livro Antigo, “semeou-me” um profundo apego a este tipo de Livro, tão excecional no seu valor e tratamento documental. Na Biblioteca Municipal de Arraiolos e na de Elvas, como responsável técnica, a gestão de recursos de recursos humanos e o “pertencer” à administração local sempre foi um binómio desafiante. Todos estes fatores contribuíram e muito para o saber gerir e o saber fazer no meu percurso profissional.
Nestes, qual foi o projeto mais desafiante em que esteve envolvido/a?
Sem dúvida, o projeto mais desafiante com que me deparei foi no ano 2006 e 2007 na Biblioteca Municipal de Elvas. Esta encerrou as suas portas em 2005 para remodelação no âmbito do Contrato-Programa com o Instituto Português do Livro e da Biblioteca IPLB. E em 2006, deparei-me com uma Biblioteca em total processo de remodelação arquitetónica, com procedimentos e coleções ainda dos anos 80, onde estava tudo para transformação e atualização na entrada do século XXI. Conduzi a maior parte do processo de remodelação, e quando da sua reabertura a 3 de novembro de 2007, e integração na Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, tive de estruturar do ponto zero todos os procedimentos e mecanismos de funcionamento, desde a logística funcional, ao processo de tratamento documental. Foi deveras gratificante esta experiência e muito enriquecedora a nível profissional.
Pode-nos traçar uma breve evolução do serviço em que atualmente trabalha e identificar os principais desafios e projetos para o futuro?
Atualmente sou responsável técnica da Biblioteca Municipal de Elvas, a qual serve um concelho com uma população de cerca de 20.000 habitantes e Elvas ocupa uma posição histórico-cultural muito especial ao ser uma região raiana, onde a cooperação transfronteiriça se manifesta primordialmente através da cooperação cultural entre portugueses e espanhóis. O fato de Elvas, estar classificada desde 2012 como Património Mundial também nos têm trazido uma dimensão internacional na nossa programação cultural e no relacionamento com a UNESCO, como por exemplo sermos uma biblioteca associada da Comissão Nacional da UNESCO.O maior desafio que nos propusemos nos últimos tempos, foi em 2020 colaborar na criação de itinerários (Rota de Escritor – António Sardinha; Rota de Obra Literária – A CRUZ DO CORCOVADO de Camilo Castelo Branco; Rota de Obra Literária – O HISSOPE de António Dinis da Cruz e Silva) para o projeto Turismo Literário de Elvas – Chave do Reino. A aliança entre a Literatura, as Bibliotecas e o Turismo, podem gerar um produto turístico muito efetivo e relevante para a promoção da leitura e do turismo. Esta simbiose permitiu aos serviços da Biblioteca expandirem as suas valências, promovendo passeios literários, feiras literárias temáticas, apoiando o serviço municipal de turismo na criação de conteúdos e dar a conhecer as Rotas à comunidade escolar, desde o ensino básico ao ensino superior. Projetos para o Futuro? Sem dúvida, futuramente, queremos promover e divulgar o estudo e a valorização da importante coleção patrimonial de Fundo Antigo que a Biblioteca Municipal de Elvas possui.
Tendo em conta o surgimento das redes colaborativas, enumere os aspetos positivos e a melhorar no seu funcionamento?
Recentemente, a Biblioteca Municipal de Elvas, integrou a recém-criada Rede Intermunicipal de Bibliotecas do Alto Alentejo (RIBAA), em que após árduo esforço, as 15 bibliotecas do distrito de Portalegre conseguiram unir-se e formalizar em conjunto com a Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA) e a Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) esta rede intermunicipal. As Redes Intermunicipais são um meio primordial para as Bibliotecas que as constituem, promoverem a melhoria das competências de literacia das populações, partilharem recursos e serviços, criarem programas de promoção de leitura e de formação continuada e promoverem o território através do espólio bibliográfico de autores concelhios e património literário e imaterial da região. As redes de caráter concelhio são também fundamentais para a prossecução de objetivos locais comuns. A Biblioteca Municipal de Elvas faz parte também da rede concelhia – Rede de Bibliotecas de Elvas (RBELV). Algo que considero ser uma das maiores benesses destas redes, é o agregar de profissionais que partilham a mesma missão, a mesma paixão, e sem dúvida, juntos somos mais e melhores!
Como caracteriza a evolução, na nossa região, dos serviços de informação desde o 25 de Abril de 1974, identificando as conquistas e o que ainda falta fazer?
A evolução foi muito significativa, sem dúvida que a grande revolução a destacar nos serviços de informação foi no final dos anos 80 do século XX, os Contratos-Programa promovidos entre o Ministério da Educação e Cultura, através do Instituto Português do Livro e da Leitura, e os municípios para a existência em cada concelho do território nacional, de Bibliotecas totalmente equipadas e atrativas às populações. Na minha opinião, o maior desafio de uma Biblioteca nos dias que correm, é a sua contribuição para o aumento dos níveis de literacia da população portuguesa.
É sócio da BAD? Se sim, pedimos que indique vantagens e, se possível, que nos deixe sugestões.
Sou sócia da BAD creio, desde 2000, e a nível da minha formação em serviços de informação, foi extremamente útil, pois frequentei várias ações de formação na BAD e é nestas que verdadeiramente ganhamos os conhecimentos necessários à prática documental e de gestão de bibliotecas. As formações são ministradas por profissionais de excelência e os conteúdos são atuais e acompanham a evolução das ciências da informação. Fiz vários cursos, e foi nestes que adquiri as ferramentas essenciais à execução enquanto profissional da informação. Este apoio no âmbito da formação foi deveras importante para mim no início de carreira.
Esta entrevista insere-se na iniciativa “Memórias da Profissão no Alentejo” dinamizada pela Delegação Regional do Alentejo.