No dia 3 de Abril de 1986, faz agora 25 anos, foi publicado no “Diário da República”, II série, um despacho da Secretaria de Estado da Cultura que pode considerar-se um marco histórico para as bibliotecas públicas em Portugal.
O objectivo desse despacho visava a criação de condições que conduzissem ao estabelecimento de uma política nacional de Leitura Pública, através da implantação e funcionamento regular e eficaz de uma rede de bibliotecas municipais, de que o país tanto carecia, tendo então sido constituído para o efeito “um grupo de trabalho orientado e coordenado pela drª Maria José Moura, presidente do Conselho Nacional da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas”.
Os resultados desse despacho são bem evidentes e conhecidos, encontrando-se materializados na Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, um dos raros exemplos do Portugal que “deu certo” e que hoje contemplamos e usufruímos com orgulho.
Numa época de desânimo e frustração convém recordar o papel que a BAD desempenhou neste processo que muito ficou a dever às suas estruturas e profissionais através da organização de seminários e acções de formação, com a publicação de artigos nos “Cadernos” e outros órgãos de informação, comunicações em Encontros e Congressos, divulgação de documentos internacionais, intervenções em diversas instâncias, participação em debates e ampla difusão do manifesto “A Leitura Pública em Portugal”, que foi decisivo para o início da discussão pública do problema das bibliotecas públicas em Portugal.
Hoje, quando este problema deixou lamentavelmente de merecer o interesse e a indispensável atenção dos poderes políticos, ao mesmo tempo que nos encheu de júbilo a inclusão de um dos “nossos”, Nuno Marçal, indigitado pela DGLB, na lista de finalistas do ALMA, importantíssimo prémio sueco que assim distingue um bibliotecário “andarilho” do interior esquecido deste país, vem-nos igualmente à memória outro significativo momento, o da atribuição de um prémio, de relevo mundial, em Amsterdam no ano de 1998, à nossa colega Maria José Moura, que aí recebeu, por proposta da IFLA, o Prémio Internacional do Livro. Se, naquele ano, fora decidido distinguir uma bibliotecária – como anteriormente o tinham sido escritores, como, p.ex., Leopold S. Senghor ou Vaclav Havel – não pode ignorar-se que o seu óbvio motivo foi o interesse e o apreço dos especialistas internacionais pelo trabalho desenvolvido no âmbito da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas. Estas continuam a ser para nós, obviamente, uma prioridade e não um luxo, como se dizia no manifesto atrás referido.