Porque a Biblioteca Municipal de Lagoa o permite, pois tem um átrio com dois pisos e paredes amplas, realizamos, desde 2002, exposições temporárias de pintura com a duração de um a dois meses. A primeira, de um assistente técnico da nossa equipa e especialista no tema, intitulava-se “Heráldica Portuguesa”e era constituída por trabalhos em tinta-da-china, ouro e prata sobre papel envelhecido.
O que começou por ser uma experiência da “prata da casa” passou rápida e inevitavelmente a rotina, face à ótima receção que houve quer da parte dos nossos leitores habituais, quer da parte dos visitantes da exposição.
Desde então, e devido também às exposições, temos vindo a ganhar novos utilizadores que não conheciam a Biblioteca ou que pensavam não necessitar dela. E todos têm mais um motivo para vir. E vêm professores com seus alunos em visitas guiadas; vêm grupos de estrangeiros; vêm os familiares e amigos dos pintores; adolescentes e jovens curiosos; crianças com os pais; adultos que também pintam ou que gostariam de pintar ou porque sim. E vêm e discutem e criticam e admiram e ficam a ver outras coisas, os livros, os filmes, os jornais, o ciberespaço, e…regressam. E, assim, no fim, ficamos todos a ganhar: os pintores, nomeadamente os menos conhecidos, têm a oportunidade de expor e mostrar as suas obras; os visitantes experienciam, pela via dos sentidos, o prazer de outras narrativas – e talvez a experiência estética permita alargar e libertar horizontes nestes dias estreitos – e, por sua vez, a Biblioteca enche-se de pessoas e é isso que queremos.
Todos os que estamos neste caminho (quase um desígnio), de divulgadores de livros e de leituras, sabemos do que estou a falar e do que significa fazer leitores, por isso, atrair pessoas para os serviços e recursos da Biblioteca através de exposições de arte já justificaria, por si só, a sua continuada realização embora, está claro, a arte não precise de justificação ou motivo para ser mostrada.
Desde a primeira exposição fomos assim fazendo um caminho, caminhando ao lado dos pintores por entre temas, cores e formas. E as diferentes obras, umas mais figurativas, outras mais abstratas, umas mais ingénuas, outras mais amadurecidas fazem a diferença e enriquecem, afinal, a oferta cultural. Todos estes artistas, à sua maneira e nas suas diferentes e originais abordagens, são obreiros da cultura e têm, portanto, legítimo e justificadíssimo lugar nesta Biblioteca.
Se tudo isto, mesmo assim, não fosse razão suficiente restaria ainda uma outra razão, não menos importante: o embelezamento da Biblioteca. As obras expostas ficam sempre bem nestas paredes. A falta delas e o espaço em branco, vazio, no intervalo entre duas exposições, suscita, por parte dos leitores, o já muito ouvido desabafo: “que despida fica a Biblioteca sem as pinturas”.
Temos todas as razões para prosseguir, portanto. E assim, por aí vamos: da Biblioteca para a Arte e da Arte para a Biblioteca.
Clara Andrade
Contribuição da delegação sul da BAD