A Biblioteca José Mattoso – que complementa a Biblioteca do Campo Arqueológico de Mértola (CAM), nomeadamente o seu Fundo Especial – teve por génese a paixão pelos livros e a curiosidade intelectual de António Gonçalves Mattoso, pai do eminente medievalista português.
Após o falecimento do seu pai e a posterior divisão da biblioteca entre os seus irmãos, José Mattoso reteve sobretudo os títulos relativos à História Medieval, tendo em conta os seus interesses pessoais e a sua atividade científica e universitária. Esta coleção, atualizada ao longo dos anos, acompanhou José Mattoso na sua ida para Mértola, por volta de 1991, ficando instalada, até hoje, numa das casas da Horta da Malhadinha, sua propriedade, situada na margem esquerda do rio Guadiana.
Dois fatores estimularam a vinda de José Mattoso para Mértola: por um lado, uma vez que sempre apreciou a vida contemplativa, pretendia isolar-se e concentrar-se na sua investigação; por outro lado, a sua admiração pelo trabalho desenvolvido pelo CAM, na qualidade de entidade promotora do desenvolvimento intelectual e cultural das áreas não urbanas, colaborando, assim, com o projeto de desenvolvimento cultural e local promovido por Cláudio Torres. Por isso, quando em 1997 doou a propriedade e a sua biblioteca ao CAM, José Mattoso pretendia contribuir e solidificar a obra realizada por esta instituição, considerando que este seria o melhor destino para a sua biblioteca.
Em finais de 2010, foi finalmente possível dar início à organização, tratamento documental e divulgação desta biblioteca, que conta com mais de 10.500 volumes (8.158 monografias e 2.411 periódicos). O principal destaque deste acervo vai para o conjunto de fontes históricas e literárias, com maior relevância para as fontes portuguesas e espanholas. De seguida, surgem as obras especializadas em História Medieval, sobretudo de Portugal e Espanha, com ênfase na História Social, História da Nobreza, História da Igreja e Ordens Monásticas e, também, na História Cultural e das Mentalidades.
A importância deste fundo documental deve-se não só ao conjunto representativo de obras de História medieval, mas também ao carácter inédito de algumas delas, nomeadamente as coleções antigas de periódicos e monografias, que apresentam um elevado valor histórico e patrimonial. Para além disso, este acervo dá conta da evolução das perspetivas da historiografia medieval ao longo do século XX, tendo apoiado a produção científica do Professor José Mattoso enquanto medievalista.
Em entrevista informal em novembro de 2010, José Mattoso referia que era seu desejo que esta biblioteca estivesse disponível, presencialmente e à distância, não só para a comunidade científica em geral, mas também para a comunidade local, de forma a constituir uma semente para o desenvolvimento cultural da região e do país, da mesma forma que, durante décadas, serviu o seu próprio desenvolvimento pessoal e académico. Frisou, ainda, que seriam as novas gerações que deveriam decidir o que fazer com este legado, de forma a conferir-lhe vitalidade e utilidade.
É neste contexto, que se tem desenvolvido o projeto da Biblioteca José Mattoso, no qual a equipa da Biblioteca do CAM está empenhada. Procura-se, assim, corresponder às expetativas de José Mattoso, nomeadamente através da implementação de uma estratégia sistemática de comunicação com a comunidade local e académica, mantendo sempre a identidade da Biblioteca.
Conheça mais de perto este projeto visitando o sítio na Internet do Campo Arqueológico de Mértola.
Paula Rosa, Maria Armanda Salgado e Filipa Medeiros / Equipa da Biblioteca do CAM