Os dois anos de formação do INELI – International Netwotk of Emerging Library Innovators – começaram para os 30 bibliotecários em Peñaranda de Bracamonte, no Centro de Desarrollo Sociocultural da Fundación Germán Sánchez Ruiperez, um lugar que inspira e motiva qualquer bibliotecário!
Assim a 7 de junho, com um encontro designado “Bibliotecas en la Frontera”, foram dadas as boas vindas a todos quantos, ao longo de dois anos, iremos estar nesta “fronteira” de mudança no que às nossas bibliotecas e à nossa profissão diz respeito. Tudo isto é liderança, tudo isto é inovação… Seremos nós capazes de acompanhar este desafio?
Luis González, pela Fundación Germán Sánchez Ruiperez e Fernando Zapata, pelo CERLALC – Centro Regional para el Fomento del Libro en America Latina – principiaram estes dois anos de trabalho e com as suas palavras de acolhimento deram início aos trabalhos, desejando que sejam o mais profícuos possível e que vão ao encontro das necessidades das bibliotecas atuais, respondendo assim ao que cada um de nós enfatizou de uma forma ou de outra nas candidaturas apresentadas.
Como mote nada como ouvir alguém que no terreno desenvolve um trabalho inovador e motivador como Javier Valbuena (Director del Centro de Desarrollo Sociocultural (CDS) de la Fundación Germán Sánchez Ruipérez en Peñaranda de Bracamonte) que partilhou algumas das suas ideias:
- Biblioteca extramuros: a biblioteca como propiciadora da ocupação do espaço público, ela vai ao encontro dos utilizadores, por exemplo nas ruas.
- Território e-book: permitir aos utilizadores o acesso a conteúdos. Mais do que realizar empréstimos o que se pretende com estas atividades é gerar conversações – clubes de leitura.
- Biblioteca como uma organização transversal e aberta, onde os espaços físicos surpreendam, emocionem e fomentem as conversas entre os utilizadores, para que isso ocorra toda a equipa deve estar motivada e empenhada na prossecução desses objetivos.
- Biblioteca humana: uma biblioteca que coopere com Escolas, Associações e Instituições.
Divididos em três grupos partimos à descoberta do CDS: “La fuerza del cuento en la Biblioteca infantil”, com Maria Ángeles Redondo e Rocío Calles; “Las mutaciones de los bibliotecarios y la colección en la Biblioteca de adultos”, com Emilia Salas e José Luis Sánchez e “Leer con otros en la nube: clubes de lectura en la nube”, com Maria Antonia Moreno. Terminámos o percurso de descoberta e aprendizagem daquela primeira tarde à volta da mesa, num convívio que nos fez – a mim pelo menos – sentir em casa, ou não estivesse o bacalhau e o leitão tão típico de Peñaranda acompanhado de um tinto do Douro.
As jornadas de trabalho prosseguiram por mais três dias, desta feita na Casa del Lector, em Madrid. Onde para além das dinâmicas de grupo, do encontro final com a apresentação de projetos inovadores dos Estados Unidos, Finlândia e Alemanha, se realizaram três conferências de reflexão e debate que contaram com a presença de Antonio Basanta (Director Geral e Vice-presidente Executivo da Fundación Germán Sánchez Ruipérez) que durante 45 minutos nos falou das diferentes formas de ler e da importância das bibliotecas no processo de promoção da leitura, como elas são imprescindíveis na sociedade atual, considerando-as uma comunidade viva de leituras e leitores que interagem. “A leitura é o estímulo necessário à inteligência”, sem uma a outra não funciona. Apostar na leitura significa apostar nos nossos valores e no desenvolvimento da inteligência. As Bibliotecas devem, por isso, fomentar a promoção da leitura, devendo ser este o seu principal objetivo orientador, mesmo que isso implique “romper com papel tradicional”, desempenhado pelo Bibliotecário, como gestor e organizador da informação.
O papel do Bibliotecário e da Biblioteca na sociedade atual vai por isso além do emissor / recetor de livros, e gestor e organizador da informação. Na opinião de Antonio Basanta, eles são fundamentais, são o intermediário da informação, e “nunca tanta informação gerou tão pouca sabedoria”, porque será? Por isso a promoção da leitura é essencial pois como afirmou, e sem dúvida todos concordamos: “ler é interpretar; ler é assimilar; ler é dialogar”. Mas acima de tudo “Ler é um modo de ser e estar na vida e desejar que um livro nunca acabe”. O único espaço onde isso é possível é nas Bibliotecas e só os Bibliotecários poderão ser impulsionadores dos seus serviços e promotores da arte de ler em todas as suas formas.
Na terça-feira, foi a vez da antiga Diretora da Biblioteca Nacional de Espanha, Milagros del Corral (Presidenta del Expert Advisory Board en Proyecto SUCCEED Comisión Europea e Asesora de Organismos Internacionales (UNESCO, ITU, Catedra Vargas Llosa)). Na sua opinião, atualmente, o “epicentro das bibliotecas é o leitor/utilizador”. É nele que nós, bibliotecários profissionais responsáveis pelas diferentes instituições que gerimos nos devemos focar. Por outro lado, as bibliotecas deverão, nos tempos que correm, “estar atentas às novas tecnologias”, como resposta às necessidades dos utilizadores / leitores. Será isso possível nas bibliotecas portuguesas? Considerando os escassos e limitados orçamentos, a não atualização dos seus hardwares e softwares como deveriam, já para não falar da escassa presença nas Redes Sociais, parece-me que ao nível das tecnologias digitais o percurso é demasiado longo e penoso…
Esta bibliotecária, escritora, deixou-nos ainda quatro ideias chave que no seu entender devemos ter sempre presente no desenvolvimento das nossas funções e no cumprimento da nossa missão como Bibliotecários: “compartilhar, inovar, crescer, reinventar”; serão estas que nos permitirão satisfazer as necessidades atuais do leitor.
No último dia, interveio Concha Vilariño, (Subdirectora General de Coordinación Bibliotecaria. Ministerio de Educación, Cultura e Deporte de España) que fez uma resenha do que são as Bibliotecas Públicas em Espanha na atualidade e a cooperação Bibliotecária, abordando programas de formação e cooperação como o IBEREX – Programa de Formácion para Profesionales de Bibliotecas – e o Iberbibliotecas – Programa Iberoamericano de Bibliotecas Publicas. Seria interessante comparar a realidade do país vizinho com a nossa, e tirar algumas conclusões, nomeadamente no que aos programas de formação para Bibliotecários diz respeito.
Destes quatro primeiros dias de formação, para além dos novos amigos Bibliotecários Iberoamericanos, trouxe muita matéria para refletir e uma primeira conclusão: sozinhos não valemos nada, precisamos sempre de alguém, quer sejam os utilizadores ou os colegas que nos ajudarão a dar um passo maior.
Inês Vila
Biblioteca Municipal de Ílhavo