O Professor Bibliotecário (PB) é um docente que assume funções de gestão de Biblioteca(s) Escolar(es) e de promoção da leitura e cujo conteúdo funcional foi oficializado em 2009, em Portaria do Diário da República.
Segundo um infográfico disponibilizado pela Rede de Bibliotecas Escolares (RBE), 92% dos professores bibliotecários pertencem ao quadro e desempenham funções na sua própria escola e, de acordo com a mesma fonte, mais de metade (56%) possui formação académica específica para o exercício do cargo.
Porém, ser professor bibliotecário excede largamente a dimensão normativa e a estatística nacional. Ser PB é uma tarefa poliédrica, que combina o trabalho em diversos eixos: formação de leitores / cidadãos críticos; gestão da coleção; dinamização e coordenação de projetos e parcerias; apoio ao currículo (formal e informal). Esta é, sem dúvida, a dimensão que melhor distingue um PB de um profissional de uma biblioteca de outra tipologia. Os utilizadores da Biblioteca Escolar são maioritariamente alunos, é esse público que a BE serve, numa operação planeada e concertada com o corpo docente, regida por documentos internacionais – como o “Manifesto da Biblioteca Escolar da IFLA/UNESCO” (1999) – e nacionais, como o Referencial “Aprender com a Biblioteca Escolar”, o “Modelo de Avaliação das Bibliotecas Escolares” (MABE) ou as recentes “Prioridades 2020.21 para as Bibliotecas Escolares”, com especial enfoque no apoio e ensino à distância, tónica formalizada também pela RBE no documento “Biblioteca Escolar Digital” (2020).
A esta panóplia de suportes subjazem objetivos e estratégias que concorrem para a formação de crianças, adolescentes e jovens em múltiplas literacias, da literacia da leitura, que se quer progressivamente fluente e com maior grau de dificuldade, à literacia da informação, premente num mundo povoado por imprecisões e fake news. Ajudar o público infantojuvenil a distinguir o trigo do joio (des)informativo é, inequivocamente, uma missão de grande alcance que a Biblioteca Escolar enfrenta, a par da literacia dos media, área que se cruza com conhecimentos ao nível da ética e da segurança no uso do digital assim como no respeito pela propriedade intelectual.
Na formação para as literacias, o Professor Bibliotecário e as Bibliotecas Escolares funcionam como validadores de informação (fact checkers) e agentes corresponsáveis pela diminuição de assimetrias culturais dentro das próprias instituições escolares. É às BE que acedem crianças, adolescentes e jovens desprovidos de ferramentas tecnológicas e/ou de conhecimento informado no seu uso. É para essa inclusão social, a partir da célula da escola, que o PB e as BE contribuem, no limite das suas competências.
Num trabalho em consonância com a Equipa da BE, os professores titulares de turma, as direções e os órgãos de gestão intermédia das escolas, o Professor Bibliotecário é, pois, um profissional da informação com vertente educativa (ou um docente preparado para a formação em literacias), para além de gestor de projetos e de técnico documental. Um verdadeiro poliedro de funções, em constante e exigente formação nas diversas áreas de intervenção a que é chamado.
Maria Carla Crespo
(Professora bibliotecária na Área Metropolitana de Lisboa)