As bibliotecas públicas / municipais constituem hoje um espaço importante e essencial para o público, tanto pelos serviços que oferecem como no papel de agente social que permite, de forma democrática, o acesso à informação e à utilização de tecnologias.
As bibliotecas também perceberam que ficar consignadas ao espaço físico que ocupam em zona urbana, não chega. Muitas delas sentiram a necessidade de estar fora de portas, por forma a alargar a sua esfera de ação.
Assim, verificam-se a criação de bibliotecas polos que se enraízam em locais mais afastados do centro urbano e que permitem um contacto mais próximo com as populações que aí residem.
Mas, desde há uns anos a esta parte, as bibliotecas voltaram a inovar e reinventar formas de cumprir o seu propósito na promoção da leitura e do Livro. Nascem as Bibliotecas de jardim, de piscina ou de praia num total de 37 registadas em 2019 no Site da DGLAB.
No que se refere particularmente às Bibliotecas de Praia, elas constituem uma nova dinâmica, por vezes inesperada, junto de públicos diferenciados que agregam múltiplas nacionalidades, culturas e preferências. Quer seja perto de uma praia, quer seja na própria praia, assente na areia, esta recente modalidade possibilita uma extensão mais ampla da ação das bibliotecas públicas. Numa época específica do ano que, por razões óbvias, afeta o desempenho e a vivência normal dos serviços de Biblioteca, geralmente refletida na diminuição da afluência dos seus públicos, as Bibliotecas Públicas optam inverter esta tendência e ir ao encontro de leitores, instalando-se junto de uma praia, apresentando-se ao público numa versão mais descontraída e leve, divertida e não raras vezes, uma anfitriã da região.
Garantindo os serviços já conhecidos, proporcionam sempre uma variada leitura, da literatura portuguesa à estrangeira, num leque amplo de géneros literários, dirigido às várias faixas etárias, passando pelos livros técnicos / informativos, e terminando na seleção de revistas e jornais.
Para além disto, as Bibliotecas de praias dinamizam os seus espaços com atividades como a Hora do Conto, ateliers de desenhos / plasticina ou dramatizações pontuais, por exemplo.
Algumas destas bibliotecas de praia disponibilizam recursos aos seus utentes tais como serviço de internet gratuito ou o uso de computadores.
Sejam pequenos ou grandes, com instalações mais simples ou mais apetrechadas, a verdade é que estes espaços criam novas dinâmicas e relações na comunidade, alterando o olhar tradicionalmente imputado às Bibliotecas. Estes espaços inovadores que procuram os seus públicos e perseveram na sua missão, refletem a mudança de paradigma na visão que as Bibliotecas têm de si mesmas, demonstrando que o seu papel não se restringe às paredes do edifício central. Elas são agentes importantes na comunidade em que se inserem, mas ultrapassam já essa esfera de ação e alargam-na cada vez mais, construindo novas pontes junto de públicos que de outra forma, dificilmente tocariam.
Fora da sua zona de conforto, conquistam outros espaços e permitem uma circulação mais dinâmica do livro. Mas também gerem novos hábitos, ganhando a confiança de leitores de outras paragens que, ano após ano retornam, validando o trabalho desenvolvido por estes equipamentos culturais.
Se forem encaradas como meras distrações ou apontamentos “culturais”, então dificilmente poderão evoluir e cumprir de forma adequada a sua função. Cabe às bibliotecas mostrarem junto da sua tutela que o seu trabalho e o seu papel na comunidade têm fundamento e ocupam um lugar privilegiado numa sociedade de informação.
Se o papel das bibliotecas de praia é reconhecido pela sua tutela, o investimento (seja financeiro ou de recursos humanos) acabará por acontecer e de forma crescente, as suas instalações sofrerão melhorias efetivas, traduzindo-se num serviço também ele melhorado para uma comunidade alargada e diferenciada.
Ana Paula Miguel, Biblioteca Lídia Jorge (Albufeira)