O início do século XXI é marcado pelo envelhecimento da população mundial, sendo esta considerada uma das transformações sociais mais impactantes da sociedade atual. Os dados estatísticos disponíveis pelo INE, referentes ao ano 2000 em Portugal, revelam um envelhecimento generalizado da população, resultando no número de idosos superior ao número de jovens.
Em Portugal, o registo de maior envelhecimento revela-se com maior impacto no interior do país, traduzindo-se na desertificação de algumas regiões. Este movimento da população deve-se fundamentalmente aos escassos recursos do Interior, e pelo consequente desinvestimento face aos grandes centros.
Os dados presentes no Boletim Estatístico do Emprego Público (BOEP) (Lisboa: DGAEP, jun. 2021), esclarecem que, no âmbito da Administração Regional e Local, mais de metade dos trabalhadores têm idades acima dos 55 anos, o que afirma uma população ativa bastante envelhecida, e prestes a atingir a idade de reforma. A estrutura etária com maior enfase regista-se entre os 45 – 54 anos (33,1%), seguindo-se imediatamente, com 31,7%, as faixas etárias dos 55 aos 64 anos. Outra forma de constatar o envelhecimento da população, e aqui particularmente nos trabalhadores da Administração Local, é observando os elementos ativos até aos 24 anos, que correspondem a 0,7%.
Num período compreendido de aproximadamente 10 anos, registou-se a diminuição do número de trabalhadores das administrações públicas em todos os escalões etários abaixo dos 55 anos (Lisboa: DGAEP, jun. 2021). Esta diminuição revelou-se mais evidente nas classes etárias dos 25-34 e dos 35-44 anos (Lisboa: DGAEP, jun. 2021). Desta forma, não existindo a renovação dos quadros, temos inevitavelmente trabalhadores cada vez mais próximos da idade de reforma.
Os dados referentes à aposentação/reforma, no ano de 2020 (Lisboa: DGAEP, jun. 2021), representam 63,0% das saídas definitivas de trabalhadores nas administrações públicas (12 976 saídas), rácio que se revela muito elevado quando verificamos os dados da administração regional e local – 81,4%.
Numa abordagem analítica sobre o envelhecimento da população e, paralelamente o envelhecimento na profissão de gestor de informação, remete para uma consciencialização crescente relativamente ao futuro da profissão, e na ótica da valorização do seu papel. Tornando-o, por isso, um alvo de desenvolvimento de investigações, apelando não só à valorização da profissão, como também à pertinência da Ciência da Informação no quotidiano.
Paralelamente aos dados apresentados, conseguimos contextualizá-los através do estudo Os Gestores de Informação nos arquivos municipais de Portugal (Lisboa: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2021), cuja amostra corresponde a 80 municípios considerados entre os rios Tejo e Mondego, incluindo a Região de Coimbra. Em concordância com os dados gerais relativos à Administração Pública, o estudo revela que os profissionais da informação com menor qualificação são também os que têm idade mais avançada (≥62 anos). É evidente a diminuição de qualificações académicas dos recursos humanos afetos à medida que subimos nas faixas etárias, especialmente nas categorias de assistente técnico e assistente operacional. Os técnicos superiores destacam-se com maior incidência nas classes etárias entre os 31-40 e os 41-50 anos, que coincidem com a conclusão da formação académica, sendo estes em menor número que os assistentes técnicos.
É notório o envelhecimento dos gestores de informação, assim como dos responsáveis dos arquivos municipais. Nestes últimos, a maior incidência das idades está compreendida entre os 41-50 anos, seguindo-se o intervalo dos 51-61 anos, afirmando o envelhecimento da população, da administração pública, e especificamente da profissão.
Ana Lúcia Filipe
Mestre em Ciências da Documentação e Informação pela
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa