No passado dia 6 de abril, a Fundação Mário Soares e Maria Barroso promoveu, on-line, uma sessão de reflexão sobre os arquivos de comunidade. A intervenção principal ficou a cargo de Magdalena Wiśniewska-Drewniak e contou com o comentário de Ana Margarida Dias da Silva, assinalando o contexto dos arquivos de comunidade em Portugal, e com a moderação de Paula Meireles.
Magdalena Wiśniewska-Drewniak abordou o tema “Memory, identity, activity – community archives in Poland” que resulta do seu trabalho de investigação financiado pelo National Science Centre, Poland/Narodowe Centrum Nauki (grant No. 2015/19/N/HS3/02466). A palestrante começou por classificar os arquivos de comunidade que, no seu entender, são arquivos históricos com o objetivo de conservar o seu património permanentemente, são criados a nível popular, habitualmente organizados por fundações e associações, mas também por particulares ou grupos informais. O conceito “social archives” ou “community archives” começou a emergir na Polónia por volta de 2012 e refere-se a arquivos relacionados com a sociedade, organizados por comunidades independentes sem a participação do Estado e a maior parte sem a colaboração de pessoal de arquivo profissional. A constituição dos arquivos de comunidade resulta de motivações sociais e cívicas imbrincadas no desejo de preservar história e tradições locais. As comunidades locais, grupos ou indivíduos recolhem, gerem, disponibilizam e dão acesso a materiais de arquivo. Em suma, significa que sua existência é resultado de atividade cidadã e paixão pela história e pelo passado, um efeito da crença de que alguns registos ou memórias merecem ser preservados, mesmo que os arquivos estatais não o reconheçam. Desta forma, preservam-se documentos e informação sobre história social, história privada, micro-história e factos da vida diária. O interesse por este tipo de arquivos levou à criação de uma base de dados de arquivos de comunidade que conta já com 687 entradas. Ainda que seja difícil definir ou encontrar uma definição consensual e integradora de todos os tipos de arquivos de comunidades, pode dizer-se que estes são criados numa base voluntária, por organizações não-governamentais e que assentam em contactos pessoais; são propriedade privada, resultados de atividades cívicas, mas que podem ter financiamento público, para além de doações privadas.
Ana Margarida Dias da Silva procurou relacionar a realidade portuguesa com a aquela descrita por Magdalena Wiśniewska-Drewniak relativamente à Polónia. O conceito “arquivos de comunidade” não aparece nas pesquisas do RCAAP, por exemplo, o que pode ser revelador da ausência de atenção dada a este tipo de arquivos, por um lado, ou, à utilização de outra designação ou conceito para a mesma realidade, por outro. Neste sentido, questionou-se se os arquivos religiosos reunidos na Plataforma PAPIR – Plataforma de Arquivos Pessoais e de Instituições Religiosas (projeto do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa (UCP), lançado em junho de 2015) ou os arquivos de família reunidos no Portal Arquivos de Família (projeto investigadores e formandos, inseridos em unidades de investigação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e/ou ligados às fileiras de formação pós-graduada em Ciências da Informação e da Documentação e em História/ Arquivística Histórica) podem ser considerados “arquivos de comunidades”. A iniciativa Ephemera – Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira ou o Centro de Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães da UMAR foram outros exemplos apontados.
A sessão terminou com um conjunto de questões por parte dos assistentes de forma a perceber exatamente quais as características dos “arquivos de comunidades” para melhor compreender como aplicar o conceito à realidade portuguesa.
Ana Margarida Dias da Silva
Associada n.º 2966