Entrevista Fernanda Campos

A quarta entrevista em vídeo, da iniciativa da Comissão Técnica Profissão, a associados aposentados que se destacaram na profissão e que estiveram na origem e desenvolvimento da BAD, contou com o testemunho da bibliotecária Fernanda Campos, que nasceu em 1949.

Nesta entrevista, realizada em 17 de abril 2023, Fernanda Campos fala-nos da primeira biblioteca que frequentou, no liceu Maria Amália, em Lisboa, onde esteve entre o primeiro e o sétimo ano.

De seguida, dá-nos conta do início da sua carreira, como colaboradora da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, entre 1973 e 1978, ano em que ingressa, como bibliotecária, na Biblioteca Nacional, onde se manteve até 2013. Entre as inúmeras funções que desempenhou nesta instituição, destacam-se as de Diretora de Serviços de Coordenação Biblioteconómica (1988-1992) e de Subdiretora (1992-2006), de que nos apresenta uma retrospetiva, considerando os 35 anos ao serviço da mesma.

No que respeita à BAD, de que é a associada nº 76, entende “que se entrávamos na profissão devíamos, de facto, fazer parte da Associação, porque era ali que nós nos podíamos encontrar, debater ideias, caminhar para a frente, enfim, era ali que era o nosso sítio, não era num cantinho isolado, sem conhecer mais ninguém”.

Referindo-se às origens da BAD, destaca Jorge Peixoto, que fez parte do grupo de bibliotecários-arquivistas de Coimbra que em 1963 criou os CADERNOS BAD, “um bibliotecário, uma pessoa notável, da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, seu diretor […] que tinha vontade e tinha dinâmica para isso”, mas “houve umas [pessoas] que achavam que naquela altura não valia a pena, outras é porque aquilo custava dinheiro, outras porque não percebiam o que é que se ia fazer, mas a pouco e pouco eu penso que a atitude mudou e que a própria BAD foi também crescendo e avançando muito para a promoção da profissão”. Sobre o modo como vê a BAD na atualidade, responde “com muito gosto, porque vejo-a muito dinâmica e sempre um passo à frente daquilo que é necessário. Essa é a minha visão, haver pessoas que conseguem cumprir aquilo que está a fazer falta agora e, portanto, dar a resposta, mas antecipar aquilo que vai fazer falta. Vejo a BAD muito moderna e muito ativa, isso para mim é um gosto enorme”.

Sobre Maria José Moura, sob cuja presidência fez parte do Ponto Focal Nacional para o Plano de Ação para as Bibliotecas, entre 1992 e 1995, refere: “guardo as melhores [recordações] (…) vi logo que era uma pessoa com uma genica extraordinária (…) vi logo que era uma força da natureza (…) uma grande amiga, uma pessoa sempre preocupada com os colegas, com os amigos e sempre com uma vontade de fazer e uma grande capacidade de trabalhar e de pôr os outros a trabalhar também”.

Fernanda Campos também recorda o período em que coordenou organizações nacionais e internacionais (IFLA – Federação Internacional das Associações de Bibliotecas e Instituições, CERL – Consortium of European Research Libraries, ECPA – European Commission on Preservation and Access, CENL – Consortium of European National Libraries), da maior relevância, ligadas a bibliotecas, nos domínios da normalização bibliográfica, gestão e valorização de coleções patrimoniais, desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias da Informação e Comunicação e cooperação internacional.

No que concerne às obras em que colaborou, como bibliotecária, destaca as Regras Portuguesas de Catalogação. (Lisboa: IPPC, 1984) e, mais tarde, o Manual UNIMARC (Lisboa: Biblioteca Nacional, 1989-1990. 2 vol.), trabalhos a várias mãos. “Agora, falando da minha atual carreira, se assim se pode chamar, aí distinguia os dois livros que fiz”, designadamente, Para se achar facilmente o que se busca: bibliotecas, catálogos e leitores no ambiente religioso (séc. XVIII) (Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2015) e A ordem das ordens religiosas: roteiro identitário de Portugal (séculos XII-XVIII) (Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2017).

O seu reconhecido percurso docente e formativo, desenvolvido em paralelo com o trabalho como bibliotecária, também foi abordado, nomeadamente, no primeiro caso, no Curso de Especialização em Ciências Documentais, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1984-1991), no Mestrado em Estudos de Informação e Bibliotecas Digitais, do ISCTE (2000-2008), e no Mestrado em Ciências Documentais, da Universidade Autónoma de Lisboa (2008-2011). Em relação à sua ação formativa, esteve ligada aos Cursos de Catalogação, na sequência da publicação das Regras Portuguesas de Catalogação, em 1984,e aos Cursos de UNIMARC, na sequência da publicação do Manual UNIMARC, em 1991, organizados pela BAD.  Sobre esta matéria acrescenta, “eu, de facto, não quis para professora, queria ter outra carreira, porque não queria ensinar, achava que não tinha jeito para aquilo e quando me vi com a possibilidade de ensinar, mesmo sendo de um ponto de vista técnico, foram experiências que eu gostei muito e que achei que me realizavam bastante, primeiro porque eu gostava de estar com as pessoas, depois porque gostava de transmitir aquilo que eu sabia”.

Sobre o novo coronavírus (SARS-CoV 2) e a COVID-19, especificamente considerando os grandes desafios e oportunidades que as bibliotecas, e os seus profissionais, tiveram de enfrentar neste período tão singular e complexo, sobreleva “uma grande movimentação por parte das bibliotecas a tentar chegar aos seus leitores, a tentar, de certa maneira, colmatar aqueles problemas que eram de não haver acesso a determinadas obras de que precisavam (..) e as várias invenções que foram tendo para se manterem em contacto com as pessoas e procurar que não deixassem de ser atendidas. Eu achei isso notável pela parte dos colegas e só tenho a louvar. E queria, ainda, fazer aqui, chamar aqui  atenção para o papel da própria BAD, que eu achei que foi muitíssimo importante, como se costuma dizer, «manter a luz acesa», portanto, fazer com que as pessoas não, enfim, não ficassem sozinhas ou, de certa forma, se sentissem mais isoladas e, pelo contrário, procurar dinamizar, procurar conversar, no sentido de não deixar cair, eu isso achei extraordinário”.

A todos os que pretendem iniciar-se na área das bibliotecas aconselha “que toda a pessoa que não se sente realizada quando faz um curso, não se sente tão realizada naquelas profissões que são mais tradicionais ligadas às pessoas, sobretudo as que vêm dos cursos de letras, penso que a possibilidade de serem bibliotecário é uma possibilidade muito grande, naquele sentido em que nos abre muitas portas. As pessoas (…) não vêm todo o potencial que se pode desenvolver e as ideias que podem nascer, e que eu vejo muitas vezes, até representadas por pequenas atividades que se faz tendo em conta o tipo de leitor que se tem, ou seja, quem, goste de ler, quem goste de comunicar, acho que os conselhos que eu daria era que estava aqui uma profissão que valia a pena”, para além de nos indicar aqueles que pensa serem os grandes riscos, desafios e oportunidades para os seus profissionais.

Esta entrevista termina com Fernanda Campos a dar-nos conta das suas principais linhas de investigação e os respetivos projetos em curso e futuros.

Em síntese, mais uma entrevista inesquecível a um emérito associado da BAD, que se evidenciou no exercício da profissão, e que é fundamental fixar e divulgar.

Paulo Batista
Comissão Técnica Profissão / Conselho Nacional 2021/23

https://noticia.bad.pt/etiquetas/profissao/

https://www.youtube.com/watch?v=5Xy7Y_jCPgQ

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