Graça Marcelino (*)
O Museu Grão Vasco possui no seu acervo, para além de importantes colecções artísticas no domínio da pintura, escultura, cerâmica, entre outras, um significativo espólio documental que constitui o seu Arquivo. Reúnem-se nele cerca de 1300 documentos, 17 livros manuscritos e 4 selos avulsos, abarcando uma cronologia que se estende dos séculos XIII ao XX, na sua maioria provenientes do cartório do cabido da Sé de Viseu, à excepção da documentação posterior à República, relativa ao período de instituição do museu e de criação das suas colecções. Este acervo está organizado pelos seguintes fundos arquivísticos:
– Pergaminhos: 1230 – 1840 (90 docs.)
– Documentos Avulsos: 1431 – [séc. XX] (cerca de 1200 docs.)
– Livros: 1361 – 1844 (17 liv.)
– Fragmentos: [séc. XIII] – 1608 (2 docs.)
– Selos Avulsos: [séc. XIII – XV] (4 ex.)
Não sendo a colecção predominante deste museu, este espólio é, todavia, um precioso testemunho da história da Sé e da cidade de Viseu e um importante instrumento para a fixação da identidade colectiva à escala local, nacional e internacional.
A constituição deste fundo documental liga-se, desde logo, à criação do Museu Grão Vasco quando, em 1916, ficavam à salvaguarda do museu os quadros e a escultura da catedral, o tesouro, e o não menos importante fundo documental dos cartórios da Sé e do cabido, deixando-se ainda em aberto a possibilidade de incorporar outras peças de relevante valor artístico ou histórico.
Em Janeiro de 1932 cria-se o Arquivo Distrital de Viseu, instalado no adro da Sé, na torre de menagem medieval até aí ocupada pela cadeia civil, com a finalidade de albergar, para além dos documentos dos cartórios paroquiais, notariais, judiciais e dos extintos mosteiros e congregações religiosas do distrito, os códices, pergaminhos e papéis avulsos provenientes dos cartórios da Sé e do cabido de Viseu, que até então se mantinham à guarda do Museu Regional de Grão Vasco. No entanto, já em 1919, este corpus documental tinha sido sujeito a uma escolha criteriosa que lhe apartava a documentação relacionada com as obras seiscentistas e setecentistas da Sé, tendo sido então entregue ao primeiro director do Museu Grão Vasco. É esta selecção de documentos que permaneceu no Museu, nunca chegando a integrar o Arquivo Distrital de Viseu, que hoje constitui a maioria do acervo do Arquivo do Museu Grão Vasco.
Em 2007, no âmbito de um de trabalho de inventariação, conservação e acomodação, realizado sob coordenação científica do historiador medievalista Anísio Miguel de Sousa Saraiva, editou-se o catálogo do AMGV, que permite o acesso virtual a cada documento, acompanhado da respectiva descrição arquivística, a datação (cronológica e tópica) e o sumário (sucinto mas o mais completo possível), seguido de diversos elementos informativos.
Tão significativo como as demais colecções museológicas que integram o Museu Grão Vasco, e o posicionam como de referência nacional, o Arquivo do Museu Grão Vasco merece especial destaque e afirma-se como indispensável para todos aqueles que querem saber mais sobre a história da Sé e da cidade de Viseu.
* Coordenadora do Serviço da Biblioteca, Arquivo e Centro de Documentação do Museu Grão Vasco.