Os estudos publicados nesta obra referem-se à História, ao Território e ao Património Mineiro e Industrial de S. Domingos, inscrevendo-se nas preocupações de uma investigação de Jorge Custódio e da sua relação patrimonial com os espaços e paisagens da Mina.
A Mina de S. Domingos, localizada no concelho de Mértola, Distrito de Beja é um povoado mineiro criado ex-nihilo, no “sertão alentejano”, durante a segunda metade do século XIX. O seu ciclo funcional [1854-1984] é típico de uma mina do ciclo paleotécnico, numa exploração mineira clássica, profundamente envolvida na primeira fase da industrialização europeia contemporânea. A sua génese, nos meados do século XIX, é marcada pelo período áureo da industria inglesa e a subsequente consagração do Império Britânico, num momento histórico em que Portugal, saindo das lutas liberais procura “renascer” e “regenerar-se” à luz dos novos modelos económicos e sociais postos em marcha pela Revolução Industrial. […] A Mina de S. Domingos vive agora – passados vinte e nove anos – o início de um novo ciclo de vida, ligado à cultura. Trata-se de um “ciclo cultural” associado a uma paisagem fóssil da “Era do Capital”, para usar uma expressão do historiador marxista Eric Hobsbawn (1917-2012) e relacionado com a valorização social da herança mineira e industrial dos seus tempos áureos, envolvendo a própria criação histórica do lugar, o urbanismo do povoado mineiro, os bens arqueológicos da Antiguidade, sobreviventes à hecatombe da exploração (1858-1966) e do abandono (1966-2004) e as ruínas arqueológico-industriais contemporâneas que agora importa estudar com as metodologias da Arqueologia Industrial.
O valor acrescentado pelo novo ciclo cultural, como a riqueza documental da sua história mineira dos séculos XIX e XX requerem ser observados à luz do aprofundamento científico, em função dos diferentes aspectos do património, com a finalidade de criar riqueza cultural, isto é, um tipo novo de Valor Económico (Carta de Bruxelas, 2009) associado à herança patrimonial, necessária à continuidade dos vestígios e bens culturais que garantem, actualmente, a classificação do Conjunto das Minas de S. Domingos, como “Conjunto de Interesse Público”, consagrado pela lei portuguesa em 3 de Junho de 2013. A inclusão do Valor Económico no sucesso emergente de salvaguarda, conservação, recuperação, reabilitação e beneficiação da Mina, poderá ser um dos primeiros casos de estudo da história do património português, tal como a sua classificação se insere no horizonte de mudança de atitude – esperemos- quanto ao futuro da valorização do que ainda resta do património e arquitectura industrial portuguesa.
CUSTÓDIO, Jorge – Mina de S. Domingos : território, história e património mineiro. Lisboa : Socius – ISEG, Universidade de Lisboa, 2013. ISBN 978-989-96593-3-9