Sandra Abreu Silva*
Estas palavras que escrevo são reflexo de muitas emoções vividas, sentidas, partilhadas. São parte de mim e do meu percurso até ao momento.
Tal como a raposa cativou o principezinho, eu também fui cativada por um “museu”.
Nada sabia sobre ele, nem tão pouco da sua existência. Os habitantes da vila onde ele habita, também não. Que lugar é este?
É um museu a “céu aberto” que conta a história de um Senhor de nome Palmela e das suas cinco filhas. Entenda-se que o senhor é o concelho e as suas filhas, as freguesias. E esta foi a definição que mais utilizei para apresentar o “meu museu” aos, para mim, mais nobres visitantes. As crianças.
Foi em Palmela, no Serviço Educativo do Museu Municipal de Palmela que esta aventura começou. E porque as emoções aqui vividas e partilhadas foram muitas e intensas, com a preciosa ajuda dos meus 5 sentidos, utilizo as cinco vogais para o descrever: Apaixonante, Encantador, Incrível, Óptimo, Único. Que privilégio crescer e aprender com pessoas extraordinárias.
É um grande desafio escrever. Quis focar este artigo no Serviço Educativo mas senti-me perdida em tantas emoções e aprendizagens que fariam sentido partilhar. Então fui buscar inspiração à minha realidade do ano de 2014.
Estou actualmente no Reino Unido, Inglaterra. É daqui que vos envio estas simples palavras.
Museus são uma paixão, por isso alimento-a. E para começar ser voluntária é a opção mais viável. Que privilégio. Que bom é estar perto das pessoas. Que bom viver as minhas e sentir as delas. Falo de emoções.
Definitivamente os museus são lugares de e para pessoas, e espaços de emoções.
E porque quando gostamos do que fazemos os resultados são sempre positivos, mesmo se algo de menos bom ou produtivo acontece, decidi fazer estas 3 perguntas, a 3 pessoas com funções distintas em 3 diferentes museus.
- Trabalhar num museu foi uma escolha ou uma consequência?
- Como descreve o seu dia de trabalho?
- Ao fim de um dia de trabalho, como se sente? Feliz? Desmotivado? Porque…
Para a Lucy Woodbridge, coordenadora do Serviço Educativo do Royal Air Force Museum em Londres, após concluir o curso de “Arts and Events Management”, encontrou aqui o seu local de trabalho que diz ser diariamente “exciting, full on, creative and challenging”.
Em Cheltenham, uma cidade com cerca de 115 600 habitantes da região Sudoeste de Inglaterra, encontrei uma casa-museu – Holst Birthplace Museum, onde a Sara Salvidge, professora primária, após ações de voluntariado ficou rendida aos encantos museológicos. Segundo ela, apesar de adorar a sua profissão e o trabalho nas escolas, é no museu que tem oportunidade de unir duas paixões, a educação e o teatro. Formada em drama, é no museu que desenvolve um projecto com a comunidade do qual resulta um trabalho variado e muito estimulante. Sara prefere o contacto com o público e desenvolver projectos de trabalho com a comunidade do que fazer investigação, porque diz que “I find the work fun, exciting and stimulating”.
E para concluir este artigo apresento-vos o MAD (Mechanical, Art & Design) Museum. Instalado em Stratford-upon-Avon, terra natal de Shakespeare, Inglaterra, é o único do género em todo o Reino Unido. Em Portugal, também, não conheço conceito semelhante.
Com mais de 50 peças expostas, aqui celebra-se o movimento e convida-se ao toque. A cor e a luz predominam neste universo que nos leva a viajar através dos movimentos e sons das obras de arte expostas. Há uma forte união entre a ciência e o design.
As crianças adoram tocar nos botões que accionam os mecanismos das obras e os adultos viajam entusiasmados neste universo singular. Cada visita é uma festa. Sendo que a maioria visita este museu pela primeira vez, há quem volte porque quer rever e/ou brincar outra vez com determinada máquina.
Para Katie Wilson, Head of Sales and Marketing, the MAD Museum “is a combination of bold creative design, mathematical precision, scientific principals and engineering ingenuity (…) When the museum was first set-up, we did believe we could provide educationally beneficial learning experiences for pupils and teachers.”
E sim é verdade. Aqui as experiências, verdadeiramente hands on proporcionam momentos felizes de aprendizagem, onde a imaginação e a diversão caminham de braço dado.
O MAD Museum cresce com uma jovem equipa, que trabalha diariamente com entusiasmo para permitir que cada visitante viva aqui uma experiência única.
Katie explica que o dia começa com a equipa a verificar se todas as máquinas estão a funcionar em condições e limpas. As portas abrem-se, o público entra e a aventura começa. No fim do dia, repete-se o processo inicial.
As máquinas, verdadeiras obras de arte, precisam do afecto humano para continuarem a criar sensações.
Termino com as palavras de Katie quando fala do estado de espírito da equipa ao fim de um dia no MAD Museum, porque cada dia é único e o sucesso desta aventura diária depende da actividade do museu.
“Occasionally we do have quiet days, when only a handful of people come in, these are the most disheartening days but we are working hard to have less and less quiet days by pushing schools and groups to visit during these times. It means they have the museum pretty much to themselves and we have people coming in our doors. Most days we all feel very pleased and satisfied, it’s a great place to work.”
Eu concordo em pleno com a Katie, porque apesar da equipa entusiasta, o museu tem maior actividade nos períodos de férias escolares e durante os fins de semana, o que significa que durante a semana, durante os tempos lectivos a afluência de público seja menor. Estes momentos são escolhidos pela equipa para fazer alguma manutenção às obras expostas, e reveladores de um aspecto a dedicar especial atenção – Serviço Educativo.
Com estas realidades tão distintas e distantes geograficamente umas das outras, concluo que há algo comum a todas elas. As emoções. A paixão das pessoas que habitam estes museus todos os dias e das/pelas pessoas que os escolhem conhecer.
Os museus vivem de pessoas e são lugares onde as emoções acontecem.
Um aplauso para os museus. Um aplauso para as pessoas.
* Sandra Abreu Silva, 37 anos. Licenciada em Animação Sociocultural. Apaixonada por pessoas e pelo contacto com o público.