A BAD, em parceria, com o Manifesto em defesa da Cultura organizou no passado dia 4 de junho uma conferência sobre bibliotecas e arquivos, integrada no ciclo de conversas “Cultura É Trabalho”. Este evento, denominado “Cultura É Trabalho: Bibliotecas e Arquivos” decorreu no Arquivo Fotográfico de Lisboa e contou com a presença de cerca de 20 participantes.
Este evento pretendeu reflectir sobre a actual situação dos Profissionais da Informação e Documentação (Arquivos e Bibliotecas), bem como contextualizar o impacto que as políticas têm tido nas carreiras, formação e no recrutamento. Simultaneamente, pretendeu-se abordar o papel e as responsabilidades que a Associação – a BAD – que representa os profissionais assume neste contexto e como pode exercer a sua influência junto do poder político.
A conferência foi liderada por Alexandra Lourenço, presidente da BAD, e Pedro Penilo, elemento do grupo de coordenação do Manifesto em defesa da Cultura.
Alexandra Lourenço, começou por referir o âmbito deste evento, bem como a interligação entre o Manifesto em defesa da Cultura e a BAD. Deu nota igualmente que a BAD é uma Associação e não é uma Ordem Profissional, nem um Sindicato, logo possui um raio de actuação delimitado pela sua natureza jurídica. A presidente da BAD partilhou que não existe um observatório da profissão, logo não é possível saber quantos profissionais existem, qual o perfil, quantas bibliotecas e arquivos existem em Portugal, nem existem estatísticas globais sobre o sector. Enquadrou legalmente estas áreas, dando nota que Portugal é um dos 3 países da Europa que não possui uma lei de bases para as Bibliotecas e para os Arquivos existe um Decreto-Lei datado de 1993, carecendo o mesmo de revisão.
Pedro Penilo fez uma breve apresentação dos objectivos do Manifesto, bem como do contexto político-social do seu surgimento. Referiu que este ciclo de debates tem como objectivos, por um lado, permitir colocar os actuais e potenciais profissionais da área e demais participantes a dialogarem sobre o trabalho e as suas preocupações na área das Bibliotecas, Arquivos e Centros de Documentação, mas também do direito a um serviço público de cultura. E, por outro, possibilitar, igualmente, analisar e incorporar as suas preocupações no âmbito da actuação do Manifesto.
Posteriormente, e com vista ao cumprimento dos objectivos a que esta conferência se propôs, foi feito o apelo à participação dos presentes para partilhem as suas experiências no que concerne ao percurso profissional e demais preocupações. Os diversos profissionais falaram das dificuldades com que se depararam ao ingressarem na profissão, as oportunidades que surgiram graças aos conhecimentos e competências que adquiriram ao longo da sua formação, bem como da precariedade que se traduz nos estágios e bolsas de investigação que adiam a realização de um contrato efectivo de trabalho. Referiu-se ainda que a criação de uma carreira única na Administração, tem contribuído para o recrutamento de profissionais sem a necessária formação para o exercício de funções nesta área, pondo pôr em causa a qualidade dos serviços prestados.
Este evento que decorreu de forma informal, contribuindo para o efeito a forma como a sala estava disposta, permitiu uma frutífera discussão e partilha de experiências entre os profissionais de gestão de informação e documentação, bem como com os profissionais de outras áreas do conhecimento relacionados com a cultura. Reflectiu-se igualmente sobre o papel que a cultura assume em Portugal, tendo sido referido que a cultura é o “parente pobre” do bem-estar dos cidadãos no nosso país, não sendo o trabalho na área da cultura devidamente valorizado e reconhecido. As Bibliotecas e os Arquivos assumem um papel extremamente importante na democratização da sociedade, sendo que a cultura tem de se democratizar a ela própria enquanto direito de todos os cidadãos consagrados na Constituição da República Portuguesa.