As Recomendações para as Bibliotecas de Ensino Superior de Portugal 2020-2022 recentemente publicadas (documento completo em http://doi.org/10.5281/zenodo.3841363) destinam-se a sustentar a atuação dos profissionais de informação no triénio 2020-2022, focando-se em quatro vertentes: i) Apoio ao ensino e aprendizagem, ii) Apoio à investigação, iii) Desenvolvimento profissional e organizacional, iv) Redes, cultura e património. No sentido de dar a conhecer cada uma delas com maior profundidade, o GT-BES inicia agora uma série de notícias breves, começando precisamente pela primeira recomendação, integrada na primeira vertente de atuação.
Apoio ao Ensino e à Aprendizagem
Reforçar as competências em literacia da informação
Reforçar as competências em literacia da informação alinhadas com as necessidades dos utilizadores, estabelecendo estratégias de capacitação para públicos diversificados com recurso a formatos e canais variados, oferecendo programas de formação de qualidade que incluam abordagens integradoras, a definição de objetivos de aprendizagem e a planificação com recurso a referenciais internacionais.
Sabemos que a aprendizagem centrada no estudante requer o uso, de forma significativa, dos recursos de aprendizagem disponibilizados, baseados em informação impressa, digital, multimédia ou outra. Portanto, os principais objetivos quando pensamos no desenvolvimento de competências em literacia da informação são melhorar a maneira de lidar com informações em múltiplos suportes, capacitar os estudantes do ensino superior no uso correto e ético da informação em diferentes contextos, e também fazer com que esta aprendizagem funcione quer no contexto da sala de aula, quer ao longo da vida.
Nesta primeira Recomendação os bibliotecários são instados a conhecer as mudanças pedagógicas emergentes que podem aproveitar para o desenho dos seus cursos, integrando esse conhecimento numa oferta formativa mais segmentada, clara e objetiva, e baseada em referenciais internacionais, como é o caso da Framework for Information Literacy for Higher Education (ACRL, 2016). Esta pode ser compreendida como uma ferramenta que espelha um espectro de habilidades, práticas e hábitos mentais que ampliam e aprofundam a aprendizagem através do envolvimento com o ecossistema da informação. A nova Framework renova o conceito de literacia da informação, definindo-a como um conjunto de habilidades integradas que enlaça a descoberta reflexiva da informação, a compreensão de como a informação é produzida e valorizada, bem como o uso da informação na criação de novo conhecimento e na participação ética nas comunidades de aprendizagem.
Importa ter em atenção que já não é suficiente “fazer mais do mesmo”. É necessária uma renovação de conteúdos e métodos, de abordagens e meios para dar formação aos nossos utilizadores. E isso inclui entender conceitos essenciais sobre o ecossistema da informação; envolver-se na pesquisa de uma forma criativa e fomentar a reflexão crítica para desenvolver perguntas; promover a investigação focada em informação que inclui a descoberta, a avaliação e a gestão dos resultados; criar novos conhecimentos através da participação ética em comunidades de aprendizagem; e adotar uma visão estratégica dos interesses, preconceitos, vieses e premissas presentes no ecossistema da informação.
Em tempos de pandemia do COVID-19, de confinamento e de desconfinamento social, é também o momento de ponderar numa nova visão da literacia da informação e numa abordagem mais adaptativa e reativa ao novo contexto social e académico.
Assim, o incentivo desta Recomendação vem no sentido de se reformular a formação, cursos e currículos, associando de forma integrada a literacia da informação às aprendizagens. Incentiva-se ainda o envolvimento dos estudantes nesse processo, promovendo e buscando critérios de qualidade e dando continuidade às premissas que fazem do apoio ao ensino e à aprendizagem uma pedra basilar na nossa atuação.
Tatiana Sanches, Maria da Luz Antunes, Carlos Lopes