Ross J. Todd
Ross J. Todd

Dr. Ross J. Todd, Professor Associado de Biblioteconomia e Ciência da Informação (LIS) na Escola de Comunicação e Informação (SC&I) Rutgers em New Brunswick, USA e um especialista de renome mundial na área da investigação em ambientes de informação digital e o papel transformador das bibliotecas escolares no século XXI, morreu no último dia de março de 2022, com a idade de 70 anos.

Ross Todd notabilizou-se pela sua investigação em alfabetização informacional e aprendizagem baseada em evidências e a sua pesquisa focou-se em três grandes linhas inter-relacionadas: entender como as crianças aprendem e constroem novos conhecimentos a partir da informação, a utilização da informação para a aprendizagem e a prática baseada em evidências para bibliotecas escolares.

Ross J. Todd tinha uma generosidade e afabilidade inesgotável. Foi mentor e fonte de inspiração para inúmeros estudantes de graduação e pós-graduação e para o desenvolvimento das bibliotecas escolares em todo o muindo.

Ross Todd será lembrado pelas suas apresentações inspiradoras em inúmeros fóruns e pela envolvência cativante das suas histórias, que prendiam a atenção dos seus ouvintes.

O seu currículo e obra é invejável e poderá ser consultado no sítio da Universidade onde trabalhava.

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Relativamente ao impacto que o trabalho de Ross Todd teve em Portugal, este terá sido iniciado e alicerçado através da Maria José Vitorino e da BAD e ainda com as presenças da RBE nas conferências anuais da IASL e IFLA. Desta cada vez mais profunda ligação, podemos salientar, como momentos altos do apoio que deu ao desenvolvimento das bibliotecas do nosso país, a sua presença na 35ª Conferência anual IASL que decorreu em Lisboa em 2006, onde nos apresentou a comunicação: “From Learning to Read to Reading to Learn: School Libraries, Literacy and Guided Inquiry” e onde afirma:

“As bibliotecas escolares são sobre o futuro. Eles tratam do desenvolvimento de jovens apaixonados pelo conhecimento; jovens que têm a capacidade de ler a palavra e o mundo, e que podem viver suas vidas como cidadãos reflexivos, informados, conhecedores e produtivos de um mundo cada vez mais interconectado.”

Mais tarde, em 2008, apoiou a Rede de Bibliotecas Escolares colaborando, como “amigo crítico”, no sentido de aperfeiçoar e apoiar o lançamento do Modelo de Avaliação das Bibliotecas Escolares.

A sua ligação e apoio às bibliotecas escolares portuguesas manteve-se sempre absoluta e incondicional, aceitando generosa e graciosamente convites para se deslocar ao nosso país, como palestrante, no Fólio, em Óbidos ou aos Encontros de Bibliotecas Escolares do concelho de Almada ou ainda em iniciativas promovidas pelas BAD e pela Rede de Bibliotecas Escolares.

O meu caminho profissional cruzou-se com o de Ross Todd em 2002, quando participei no projeto Europeu, GrandSlam,  sobre o impacto das Bibliotecas Escolares na Europa, financiado pelo programa Sócrates/Minerva e nos quais participaram oito países.

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Num dos seminários deste projeto, que organizamos na Lituânia, Ross Todd apresentou, de uma forma cativante, o estudo realizado no estado de Ohaio e em outros, onde se afirmava que 16 estados norte Americanos não podem estar enganados . Neste documento reúnem-se testemunhos e resultados de quase uma década de estudos empíricos que provam o impacto mensurável que as bibliotecas escolares e os professores bibliotecários têm sobre os resultados académicos dos estudantes.

Esta apresentação foi tão poderosa e cativante que me fez decidir apostar mais e mais no estudo sobre biblioteconomia e ainda a procurar tornar-me um bom professor bibliotecário, abraçando, definitivamente, uma opção de futuro com as Bibliotecas Escolares.

Os nossos caminhos voltaram a cruzar-se, inúmeras vezes, através dos cursos Europeus SLAMIT, sobre bibliotecas Escolares, que coorganizei, respetivamente em 2008: Druskininkai/Alytus, Lithuania;  2009: “Lifelong learning – School Libraries and new learning” Costa da Caparica, Lisbon, Portugal ; 2012: “School Libraries and New Learning” Ennis, County of Clare, Ireland; 2013: “School libraries as learning centres”, Make a difference – sharing best practice, Porto e 2018, em Zagreb, Croatia.

Em todos estes cursos, Ross Todd foi sempre de uma generosidade enorme e simpatia impactante. As suas apresentações, de duas ou mais horas, traziam sempre novidades e resultados de investigação recente. Nunca nos cansávamos de escutar, bebendo todas as suas palavras.

Testemunhei também as suas presenças em Óbidos e, claro, em Almada, onde aceitou o nosso convite para enriquecer os encontros de Bibliotecas Escolares.

De todos estes contactos com Ross Todd, ficou sempre muito claro o respeito e admiração que ele tinha pela evolução das Bibliotecas Escolares em Portugal e pela BAD. Dava-nos como exemplo e tinha muito orgulho em nós e no nosso trabalho!     

Muito aprendi com ele: o valor da Biblioteca Escolar como espaço fundamental para todos os alunos, a resiliência, o acreditar que a mudança é possível, a crença na pessoa e no seu potencial e, claro, que as Bibliotecas Escolares Funcionam!

Há muito consideradas como a pedra angular da comunidade escolar, as bibliotecas escolares não são apenas o espaço dos livros. Em vez disso, porque geridas por profissionais qualificados e formados que sabem trabalhar em colaboração, elas são ambientes de aprendizagem sofisticados no século XXI, oferecendo uma gama completa de recursos que proporcionem oportunidades iguais de aprendizagem a todos os alunos, independentemente dos seus níveis socioeconómicos ou educativos.

Ross identifica as características que distinguem uma boa biblioteca escolar:

  • Tem um bibliotecário escolar qualificado (um professor) com formação formal em biblioteconomia e que seja capaz de colaborar com os colegas
  • Disponibiliza uma coleção diversificada de alta qualidade para o seu público-alvo (impressa, multimédia, digital) que apoia o currículo formal e informal da escola, incluindo projetos individuais e de desenvolvimento pessoal.
  • Tem uma política explícita e um plano de crescimento e desenvolvimento contínuo.

Guardo ainda, como guia orientação do meu trabalho e que passo a todos aqueles com quem contacto, a definição de biblioteca Escolar que ele foi aperfeiçoando ao longo dos anos e que fixou nas Diretrizes da IFLA para a biblioteca escolar, de 2015

“A biblioteca escolar é um espaço de aprendizagem físico e digital na escola onde a leitura, pesquisa, investigação, pensamento, imaginação e criatividade são fundamentais para o percurso dos alunos da informação ao conhecimento e para o seu crescimento pessoal, social e cultural.”

Foi um privilégio e uma bênção tê-lo conhecido e ter aprendido tanto com ele. Deixou-nos cedo de mais. Tinha ainda muito para investigar e nós para conhecer os resultados dessa mesma investigação.   

João Paulo Proença

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