Maria Adelaide Galhardo
Biblioteca Municipal de Penafiel

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Foto: Mário Rufino
 “A Escritaria premeia os escritores que persistem em escrever sem desistir. Este evento pretende celebrar autores de quem ainda se espera muito no futuro. A cultura por si só não resolve todos os problemas do país e do mundo, no entanto, com o mínimo dos mínimos, conseguimos levar às pessoas o máximo dos máximos, e só através da arte, nas suas mais distintas formas, conseguiremos nos aproximar daquilo que queremos ser.”

Assim se referia Lídia Jorge ao evento que entre 1 e 5 de outubro, “contaminou” a cidade de Penafiel, através não só da literatura, mas também do teatro, música e artes plásticas e que vai já na sétima edição. Por aqui passaram nomes como Urbano Tavares Rodrigues, José Saramago, Agustina Bessa-Luís, Mia Couto, António Lobo Antunes, Mário de Carvalho e finalmente Lídia Jorge, num festival literário que pretende homenagear um escritor de língua portuguesa, vivo, porque as homenagens devem ser feitas em vida e não a título póstumo.

Quando convidada para o Escritaria 2014, a autora explica porque aceitou: “Trato-me sempre um pouco como uma debutante, mas a certa altura a pessoa faz as contas. Mais do que as contas da sua própria vida, faz as contas dos livros que tem. Olhei e vi a pilha dos livros e disse que talvez esteja na hora de aceitar uma festa dessas.”

Em boa hora o fez e foram vários os momentos marcantes que se viveram nesta “festa” a começar pela emoção da autora quando viu reproduzido um poema que tinha escrito para Sophia de Mello Breyner Andresen e do qual já não se recordava. Quando o leu “foi como um recado a dizer que a cidade andou mesmo à procura da parte mais íntima do que escrevi”.

Com uma programação variada que começou com os Roteiros Literários organizados pela Biblioteca Municipal de Penafiel (que permitiram às escolas do concelho conhecer melhor os escritores homenageados ao longo das sete edições), passando pelos “Sinais Memoráveis” entre Fernando Alves e Lídia Jorge, pela apresentação de “O organista” pelo padre Anselmo Borges, até às várias conferências e eventos de rua, mais do que um encontro entre o escritor e o seu público, foi uma reunião de amigos, porque Lídia Jorge consegue com o seu enorme talento e simpatia, não só captar o leitor, mas trazê-lo para o seu universo de amizades.

Comovido encontro da escritora com Eunice Muñoz
Comovido encontro da escritora com Eunice Muñoz

E que honra estar neste grupo, já que se deslocaram a Penafiel além dos nomes já mencionados, Eunice Munoz, José Fanha, José Carlos de Vasconcelos, Cucha Carvalheiro, Inês Pedrosa, Fernando Pinto do Amaral, Mário de Carvalho entre muitos outros que quiseram homenagear a escritora. O livro que nos deixou, “O organista”, apesar de nos remeter na contracapa para uma “prodigiosa fábula sobre a criação do Universo e a relação dos homens com Deus”, uma fábula na qual “ o criador tem inveja da felicidade dos homens” é, tal como todos os livros de Lídia Jorge, uma reflexão sobre o homem e o seu tempo, por isso mesmo nos diz  só querer ser “uma cronista do tempo que passa” e é exímia nisso como o comprova a sua bibliografia.

Numa feliz parceria entre a Câmara Municipal de Penafiel e o Grupo de Comunicação Novembro, a Escritaria deste ano deixou a sua marca com uma frase escrita no chão à entrada da Biblioteca Municipal de Penafiel (onde irá estar até ao final do mês a exposição “Viagem pela Escritaria: ao Encontro de Lídia Jorge”):

“Não há livro de instruções para salvar a vida: Só a literatura se aproxima desse imenso livro.”

Esta frase levou a escritora no encerramento do evento a dizer: “Nunca imaginei que uma frase minha pudesse estar escrita no chão de uma biblioteca”. Não se imagina melhor lugar para estar… Lídia Jorge encantou-se com Penafiel e encantou os penafidelenses. É que os grandes escritores tal como a sua escrita são assim, de uma forma simples transmitem o muito que têm para dizer. Para o ano há mais, obrigada, e até breve, Lídia Jorge.

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