A BAD – Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas manifesta publicamente o seu pesar pelo desaparecimento do dr. Mário Soares, o mais ilustre dos presidentes da República do após 25 de Abril, e seguramente um dos mais influentes homens de Estado europeus do século XX.

Mário Soares foi um intransigente obreiro e defensor da liberdade e da democracia e protagonizou momentos fundamentais da transição democrática em Portugal e da nossa inserção na Europa. Mas importa-nos reconhecer aqui, e antes do mais, o facto de ele ter sido sempre um homem da cultura e do conhecimento, amigo próximo de inúmeros escritores, artistas plásticos, cientistas, cineastas, atores e criadores nas mais diversas áreas artísticas, sendo ele próprio um autor de uma vasta obra escrita e membro da Sociedade Portuguesa de Autores.

Era também sócio honorário da BAD. Em Assembleia-Geral realizada a 5 de Maio de 1994, o dr. Mário Soares foi distinguido em sinal de reconhecimento pelo seu interesse “pela cultura em geral e particularmente pelos aspectos relativos aos livros, à leitura e à informação como veículo do desenvolvimento” e pela sua participação ativa “na abertura dos últimos dois Congressos Nacionais de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas”, como reconhecia a então presidente da BAD no ofício em que lhe comunicava a proclamação.

Mais de uma vez, com a sua habitual bonomia, reclamou para si a qualidade de bibliotecário, não obviamente pelos seus conhecimentos técnicos, que não reivindicava, mas sim pelo seu amor aos livros e às bibliotecas, e por ser possuidor de vastas colecções bibliográficas e documentais.


Estes seus atributos estão na origem de uma intervenção memorável no dia 4 de Março de 1992, em Braga, na sessão de abertura do 4º Congresso de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas, em defesa da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas e contra a extinção do então Instituto Português do Livro e da Leitura e da sua fusão com a Biblioteca Nacional, o que infelizmente não se conseguiu evitar nessa altura.

Nesse mesmo ano uma frase memorável proferida na inauguração da Biblioteca Municipal de Mértola, instalada no edifício de uma antiga cadeia, viria a ser depois repetida diversas vezes. Sublinhou o Presidente na altura que aquela biblioteca era a materialização de um velho sonho anarquista: transformar as prisões em bibliotecas como forma de redimir as fragilidades e as falhas humanas.

Mário Soares merece o reconhecimento dos portugueses e merece a preservação da sua memória tanto no futuro mais próximo como num mais distante. Os profissionais da informação e documentação saberão dar o seu contributo nesse sentido. Essa é uma das suas especialidades fulcrais, indispensável num tempo em que a memória é facilmente distorcida ou deliberadamente obliterada.

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