Em 2020, o mundo susteve a respiração. Tudo mudou, tudo parou ou abrandou. A Covid-19 entrou na vida de todos inesperada e brutalmente. Quem passou por esta situação pandémica, decerto não a esquecerá.
Começamos a lavar e a desinfetar as mãos com maior frequência, a usar máscara, a manter uma distância de segurança e a franzir o olho sempre que alguém não cumpre as regras…! Ficamos privados de hábitos tão simples como respirar e, enquanto professora bibliotecária, cheirar os livros em plena biblioteca passou a ser uma missão impossível. Quando paro para pensar em tudo isto, a canção “Wrecking Ball” de Myley Cyrus não me sai da cabeça. De facto, foi o que aconteceu, pelo menos no início. Hoje, a situação é vivida com mais “normalidade” e, como seres humanos, aprendemos a adaptarmo-nos a esta nova realidade.
No campo profissional, esta adaptação manifestou-se até no manuseamento de recursos. Na biblioteca onde exerço funções, os alunos requisitam os manuais escolares para um ano letivo. Desta forma, em junho e julho, todos os manuais escolares e outros recursos são devolvidos. Os procedimentos adotados passaram por fasear a entrega destes recursos na biblioteca, pelos encarregados de educação, em diferentes dias da semana para que se evitassem aglomerados. Após a receção dos recursos, com luvas de latex, estes eram acondicionados em caixas fechadas e colocados num armário onde permaneciam 72 horas em quarentena. Em cada caixa era colado um papel com a data em que os recursos podiam regressar às estantes. Entre cada entrega por pessoa, as mãos/luvas e as superfícies de contacto eram desinfetadas.
A promoção da leitura esteve sempre presente, pelo que o empréstimo domiciliário para o período de férias de verão foi permitido. Um e-mail ou telefonema eram suficientes para reservar quaisquer recursos. Já de volta à escola, ano novo, realidade nova! A escola criou bolsas de segurança por anos de escolaridade para evitar o contacto entre estes. Assim, os alunos do 5º ao 8º ano viram-se impossibilitados de ir à biblioteca. Contudo, se os alunos não vão à biblioteca, a biblioteca vai até aos alunos! Todos os dias, quer online, quer mediante reserva prévia pelos professores… Por exemplo, um trolley repleto de livros é levado às salas de aula para que os alunos requisitem livros. É gratificante verificar que é sempre com um grande sorriso que o recebem. O confinamento acabou por provocar o aperfeiçoamento dos serviços digitais que a biblioteca oferece, nomeadamente na área da leitura, mas também de muitas outras. Deste modo, sentimos um aumento de leitura digital.
Nada é perfeito e estes procedimentos não foram exceção. Contudo, estou certa de que sempre se teve em mente fazer o melhor possível, nunca esquecendo a segurança de todos. Relativamente à “Wrecking Ball” de Cyrus, essa deu lugar a outras melodias. Agora não me saem da cabeça as sábias palavras “Algo me diz/ Que a tormenta passará” da nossa Mariza.
Anabela Neves
Clip – Oporto International School