Introdução
Vivemos atualmente numa sociedade caracterizada por uma mudança constante, fruto de uma revolução tecnológica e de tecnologias emergentes (Computação em Nuvem; Internet das Coisas (IoT); Inteligência Artificial (AI); Tecnologia 5G e Tecnologias Quânticas) que está a alterar a forma como vivemos, trabalhamos, estudamos e socializamos. O conhecimento está na base de todas as atividades, exigindo que os alunos tenham de aprender ao longo da vida, desenvolvendo competências ao nível cognitivo e de atitudes para lidar com a informação e a gerir de forma crítica, criativa e inovadora. Neste sentido, deve-se equacionar o papel que as bibliotecas escolares devem e podem ocupar neste processo de mudança, como no domínio das múltiplas literacias e no desenvolvimento das competências que capacitem os alunos com uma abordagem crítica na sociedade.

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Na atual sociedade, todos os que têm responsabilidades na área da educação têm a obrigação de garantir que todos os alunos recebem uma educação adequada que os capacite para participar de forma ativa e crítica na sociedade, por isso, ser tão importante, a equidade e a inclusão, sendo que o lema da Rede de Bibliotecas Escolares no ano letivo de 2022/2023 é “Inclusão, Recuperação e Inovação” (RBE, 2022). Torna-se fundamental, que a escola do século XXI seja disruptiva e ofereça diversos instrumentos de aprendizagem e desenvolvimento de competências, estímulos e atitudes nos alunos, como, jogos, aplicações, programação e robótica (Prensky, 2001b), o trabalho em grupo, o autoconhecimento, a comunicação, a criatividade, o raciocínio lógico e o convívio. Neste contexto, as bibliotecas escolares devem ser centros de recursos partilhados, centros de cidadania ativa e de gestão do conhecimento, centros de desenvolvimento das múltiplas literacias e espaços de aprendizagem criativos (Pataki, 2019), inovadores e comunitários, de inclusão e convívio dentro da escola, prestando serviços abrangentes num campo educativo em transformação e comprometidas com a visão humanista e o desenvolvimento sustentável do mundo. Contudo, nos próximos anos devem ser fornecidos outros tipos de programas e serviços que preparem os alunos para a sociedade em transição digital, os designados, alunos e potenciais leitores – nativos digitais que Marc Prensky nos fala (2001a) ou Geração Z, na ótica de Marianna Edit Pataki (2019), da Associação Húngara de Bibliotecários Escolares que, convivem com múltiplos ecrãs, plataformas, redes sociais, algoritmos, Inteligência Artificial, múltiplas literacias e transliteracias.

Na sociedade do século XXI, as bibliotecas escolares estão segundo o professor bibliotecário Ryan Bani Tahmaseb, no seu livro The 21st century school library: a model for innovative teaching learning “na vanguarda da inovação na educação” (2021, p. 6), mas, deparam-se com diversos desafios e prioridades, de que salientamos, entre outros:

  • Devem ser espaços que contribuem para a transição digital, com a implementação do Plano de Desenvolvimento Digital da Escola, com foco indispensável na dimensão pedagógica, redefinindo os seus espaços físicos, garantindo a inclusão, a equidade, a liberdade intelectual, o exercício de uma cidadania democrática, crítica e sustentável, a multifuncionalidade e a flexibilidade, viabilizando as múltiplas vertentes da sua ação (RBE, 2021);
  • Aperfeiçoar os espaços digitais com uma presença em linha estruturada, atualizada e sistemática, associada à curadoria da coleção digital e prestação de serviços complementares à biblioteca física (RBE, 2022);
  • Fomentar as múltiplas literacias (leitura, informação, média ou digital, entre outras) e as transliteracias, prosseguindo iniciativas e programas orientados para o desenvolvimento das competências de leitura e de escrita multimodais (RBE, 2022). O atual potencial leitor é um nativo digital, como lhe chama Prensky (2001), um “leitor que inclui nas suas estratégias de leitura ferramentas tecnológicas que não existiam anteriormente; um leitor que descodifica sistemas semióticos, visuais e multimodais, com recurso ao texto impresso, mas também ao texto no ecrã da televisão, do computador e, cada vez mais, dos tablets e telemóveis, a imagens estáticas ou em movimento e ao som” (Ramos, 2015, pp. 7-8).
  • Promover uma educação disruptiva, assente no trabalho colaborativo para práticas educativas transformadoras, inovadoras e criativas, com professores, órgãos de gestão, Pais/Encarregados de Educação para cumprir com a missão da Escola que, Tahmaseb nos fala em relação à educação do K-12 (2021). É necessário reconhecer a mais-valia da diversidade dos alunos e encontrar formas e meios de que se dispõe para que todos aprendam e participem ativamente na vida da comunidade (Hall, 2021). Neste aspecto, deve-se nortear pelas 6 C’s – Competências na área da educação, falamos de, Colaboração, Pensamento Crítico, Criatividade, Comunicação, Cultura e Conectividade (Baker, s.d).
  • Promover um centro de cidadania sustentável e digital, onde se aprende a usar ferramentas digitais de forma ética, legal e segura;
  • Ser um espaço com tecnologias emergentes (Computação em Nuvem; Internet das Coisas (IoT); Inteligência Artificial (AI); Tecnologia 5G e Tecnologias Quânticas) e metodologias ativas que, consistem numa conceção educativa onde os alunos surgem como principais agentes da aprendizagem. Os professores deixam de transmitir conhecimentos e ideias e promovem o desenvolvimento das competências nos alunos. Com a adoção destas metodologias, os alunos adquirem maior autonomia, desenvolvem a autoconfiança, encaram a aprendizagem com mais tranquilidade e tornam-se profissionais mais qualificados (Faber-Castell Educação, 2022);
  • Um espaço com recursos humanos capacitados para as tecnologias emergentes atrás enumeradas. Sempre que emerge uma novidade tecnológica, surgem novas possibilidades pedagógicas que, frequentemente, levam a rever, readaptar e atualizar os modos de pensar a educação. Por essa razão, as bibliotecas escolares precisam de estar constantemente atentas às tecnologias emergentes, como a literatura transmedia, espaços com webmarketing, espaços com robótica e programação, impressão 3D, metaverso e Inteligência Artificial (Observatorio de Innovación Educativa, 2022); espaços de gamificação – uso de mecânicas de jogos para convocar e acionar, resolver problemas e melhorar a aprendizagem, a Future Classroom Lab, Learning Labs ou makerspaces, espaços de criação como estratégia e serviço da biblioteca no século XXI (Velasquez, 2022; Juliani & Prates, 2021). Em relação aos Future Classroom Lab – criada pela European Schoolnet, em 2012, surgiu como um ambiente de ensino e aprendizagem inovador, enriquecido tecnologicamente e, constituído por seis diferentes espaços flexíveis e reconfiguráveis: Criar, Interagir, Apresentar, Investigar, Partilhar e Desenvolver que, desafiam os professores a repensar o papel da pedagogia, da tecnologia e do design da configuração espacial das salas de aula (European Schoonet, 2016). Por sua vez, os Learning Labs podem estar localizados e ser partilhados por mais do que uma escola; estar situados em comunidades ou ser espaço móveis, localizados num autocarro e visitarem diferentes escolas e/ou comunidades.

Conclusão
Vivemos numa sociedade em transformação tecnológica, onde os alunos acedem facilmente à informação nas bibliotecas escolares, mas isso, por si só, não significa que tenham mais conhecimento ou aprendam mais e melhor. O desenvolvimento das competências e atitudes, a par do domínio das múltiplas literacias é fundamental para a preparação dos alunos, sendo a escola e, especificamente, as bibliotecas escolares, os locais onde este processo deve acontecer para estarem e, parafraseando Tahmaseb, “na vanguarda da inovação na educação” (2021, p. 6).

Em suma, espera-se que as bibliotecas escolares do século XXI, em plena sociedade global e em rede e nas redes sociais, aproveitem as oportunidades da tecnologia – ambientes digitais e Inteligência Artificial, contornem os seus riscos, capacitando os alunos com competências transversais para a vida real. Segundo Sofía García-Bullé existem cinco tendências educativas para 2023, nas quais podem representar desafios e prioridades para as bibliotecas escolares nos próximos anos: 1º a aprendizagem ao longo da vida; 2.º a gamificação – conetar com os alunos através de jogos; 3.º o enfoque em programas STEAM, nas áreas das ciências, tecnologia, engenharia, arte e matemática; 4.º o bem-estar e saúde mental e, por último, as competências transversais, como colaboração, desenvolvimento pessoal, inteligência cultural e social (García-Bullé, 2023).

Ana Margarida da Costa
bibliotecária

Referências bibliográficas
Andrade, F. (2019). Da biblioteca às redes sociais: literatura, tecnologia e cultura de fãsLetras em Revista, 9(2). 
Baker, P.L. (S.d.). Your Learning Commons. Transform your school library into a 21st century learning hub.
European Schoolnet. (2016). Future Classroom Lab.
Faber-Castell Educação. (2022). Tradicional x Inovador: é possível mesclar momentos de exposição com práticas de metodologias ativas?.
García-Bullé, S. (2023, 20 janeiro). Cinco tendencias educativas para 2023. Instituto para el Futuro de la Educación.
Hall, B. (20 de março de 2021). 3 Keys to More Effective Collaboration in an Inclusive Classroom.
Juliani, J. P., & Prates, G. V. C. (2021). Bibliotecas escolares do século XXI: implementando makerspacesBiblioteca Escolar em Revista7(2),42-60. 
Loh, C.E. (2019). Envisioning the School Library of the Future: A 21st Century. OER5/16 LCE Technical Report 2. Singapore: National Institute of Education, Nanyang Technological University.
Pataki, M. E. (2019). Is the 21th-century school library a fiction or a tangible reality?. IASL Conference Proceedings (Dubrovnik, Croatia): Convergence – Empowering – Transformation: School Libraries, 1-10. https://doi.org/10.29173/iasl7408
Prensky, M. (2001a). Digital natives, digital immigrants. On th eHorizon, 9(5), 1-6.
Prensky, M. (2001b). Do They Really Think Differently? Digital Natives, Digital Immigrants, Part II. On the Horizon, 9(6), 1-6.
RBE. (2021). A Biblioteca Escolar no Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital da Escola. Rede de Bibliotecas Escolares.
RBE. (2022). Prioridades para as Bibliotecas Escolares 2022-2023. Rede de Bibliotecas Escolares.
Tahmaseb, R.B. (2021). The 21st Century School Library: A Model for Innovative Teaching Learning. John Catt Educational Ltd.
Velasquez, J. (2022). MakerSpaces: new tradition in context. The Hague: IFLA.

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