No âmbito da 4.ª edição do Programa de Mentoria da BAD, em 2025, tive a oportunidade de acompanhar, na qualidade de mentora, Rosa Paula Rocha Pinto. Este percurso conjunto nasceu da necessidade muito concreta de preparar o futuro da Biblioteca do Conservatório Nacional Escola Artística de Música, num momento em que esta se encontra encerrada, aguardando a conclusão de obras de reabilitação.
Após a conclusão dessas obras, a Biblioteca regressará ao espaço que tradicionalmente ocupava desde a criação do Conservatório de Música, mantendo a sua função histórica de apoio ao ensino artístico e musical. Enquanto decorrem as intervenções, a coleção permanece acondicionada em caixas, sem possibilidade de consulta presencial, e parte do fundo histórico encontra-se à guarda da Biblioteca Nacional. As atuais limitações físicas impedem qualquer visita técnica, estando a reabertura da biblioteca prevista apenas para o ano letivo de 2026-2027.
O que motiva este relato não é o alcance atual dos resultados (que só serão plenamente visíveis quando a biblioteca reabrir), mas sim a forma como, neste contexto adverso, foi possível transformar os constrangimentos numa oportunidade de preparação, reflexão e capacitação técnica.
Sem acesso ao espaço nem ao acervo, optámos por uma abordagem mais teórica e estratégica. Começámos por olhar para fora: explorámos exemplos de bibliotecas estrangeiras que servem escolas de música, discutindo serviços de apoio ao ensino, modelos de desenvolvimento da coleção e formas de articulação com a vida letiva. Falámos de espaços próprios para audição e visionamento, de empréstimo de partituras, de performances em contexto de biblioteca, de exposições e de serviços digitais. Importou, sobretudo, pensar a biblioteca não apenas como um depósito de materiais, mas como um centro vivo de prática musical e de apoio ao estudo.
Figure 1 Retrato de João Domingos Bomtempo (1814) –
Henrique José da Silva (Museu Nacional da Música).
Retrato de João Domingos Bomtempo (1814) – Henrique José da Silva
Em paralelo, trabalhámos a vertente estritamente técnica. A biblioteca não dispõe, até ao momento, de um catálogo informatizado. Em 2025, foi adquirido o software BiblioNet, que será o sistema de gestão bibliográfica a implementar na reabertura. A mentoria centrou-se, assim, na preparação desta transição: introdução ao formato UNIMARC na aplicação BiblioNet, e apresentação das normas RISM (em MARC21) e do software MUSCAT, abrindo a porta a uma futura interoperabilidade com a rede internacional de fontes musicais.
A Rosa Paula, ao longo da mentoria, revelou curiosidade e disponibilidade para aprofundar as temáticas abordadas. As nossas conversas alternaram entre dúvidas muito concretas e reflexões mais amplas sobre a posição da biblioteca na estrutura da escola e do ensino. Penso que esta mentoria lhe permitirá desenvolver uma maior sensibilidade para apoiar o futuro desenvolvimento da biblioteca do Conservatório, quando esta entrar em funcionamento no próximo ano letivo.
Maria João Albuquerque
