A terceira entrevista em vídeo, da iniciativa da Comissão Técnica Profissão, a associados aposentados que se destacaram na profissão e que estiveram na origem e desenvolvimento da BAD, contou com o testemunho do bibliotecário Henrique Barreto Nunes, que nasceu em 1947.
Nesta entrevista, realizada em 17 de abril, Henrique Barreto Nunes dá-nos conta do seu primeiro contacto com o mundo das bibliotecas, como leitor da biblioteca fixa da Fundação Calouste Gulbenkian, em Monção, em 1958, e do início da sua carreira, na Universidade do Minho, aquando da entrada, como Técnico de 3ª classe, para os Serviços de Documentação, em dezembro de 1974 e, em 1977/1978, para a respetiva Unidade de Arqueologia (Campo Arqueológico de Braga).
A Biblioteca Pública de Braga, onde ingressou em 1978, sendo o seu responsável entre 1982 e 2000, ano em que se tornou o respetivo diretor, funções que desempenhou até se aposentar, em julho de 2009, merece natural destaque, considerando os mais de 30 anos ligados a esta instituição.
O testemunho que nos dá enfatiza a sua profunda ligação à BAD, a que aderiu em outubro de 1974 e de que é associado honorário desde 2010. Neste percurso, trilhado e assente em afetos e cumplicidades, Henrique Barreto Nunes destaca Maria José Moura, que conheceu em 1983, e apelida de “farol”, destacando o seu “estado de desassossego permanente, sempre a motivar-nos, sempre a entusiasmar-nos, sempre a exigir-nos, sempre a atualizar-nos”, “uma mulher com uma visão extraordinário, que nos inquietava”. Para o nosso entrevistado, esta associada e profissional de excelência foi determinante na sua vida, nomeadamente para a apresentação do manifesto “A leitura pública em Portugal”, de que foi um dos redatores, e criação do Grupo [de Trabalho] das Bibliotecas Públicas, de que foi o seu primeiro coordenador, e que esteve na origem da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, nas suas palavras, “essa aventura, essa revolução silenciosa e tranquila, mas que abanou o país de uma maneira impressionante”.
Durante a nova realidade emergente do novo coronavírus (SARS-CoV 2) e a COVID-19, que marcaram de forma indelével o período entre meados de março de 2020 até bem recentemente, Henrique Barreto Nunes destaca o papel das “bibliotecas comprometidas com a cidadania, as bibliotecas insubmissas que procuraram desempenhar o seu papel nas condições mais agressivas, mais perigosas que se desenhavam”, destacando que “as bibliotecas só fecharam portas quando foram obrigadas a isso, mas logo a seguir inventaram medidas e processos, e atividades e iniciativas, e apostaram mais na rede informática, no recurso às digitalizações e à informação, para sobreviverem e ajudarem a população a sobreviver a esse período tenebroso da nossa vida.”
Respondendo à forma como vê o futuro das bibliotecas em Portugal, e que conselhos gostaria de deixar a quem pretenda iniciar-se nesta área profissional, Henrique Barreto Nunes salienta que “é preciso paixão no exercício da profissão”, “sentir uma ligação muito forte ao trabalho que realizamos e à importância que temos para a comunidade”, e “que se aplicar o Manifesto da Unesco para as Bibliotecas Públicas a nossa missão como bibliotecários é cumprida”, entre muitos outros conselhos para dinamizar estes serviços de informação e que existem para todos, onde se inclui a importância de ser associado da BAD.
Bem mais do que uma entrevista, uma aula, do princípio ao fim, verdadeiramente apaixonante, feita de valores, ética e compromisso, ancorada num bem identitário, definidor da biblioteca, que, sublinha, “deve estar sempre atenta à realidade, estar sempre atenta à informação e escapar às censuras. A biblioteca para mim continua a ser sempre um espaço de liberdade, que tem de ser liberto de censuras ideológicas, de censuras política, de censuras religiosas, do que quer que seja, é um espaço de liberdade.”
Numa palavra, imperdível.
Paulo Batista
Comissão Técnica Profissão / Conselho Nacional 2021/23